segunda-feira, 31 de março de 2008

Figuraça da semana

Ele faz show aqui em São Paulo nessa sexta-feira. E embora seus melhores discos já tenham, todos, algumas décadas de idade, Rod Stewart permanece como uma das melhores e mais originais vozes do rock. Além disso, é uma figuraça – filho de escocês, herdou o tradicional desvario de seus descendentes pela bebida, é um incorrigível admirador de belas mulheres (já está em seu quinto casamento – na foto aí embaixo, com uma delas, a belíssima atriz sueca Britt Ekland)) e adora futebol. Já foi coveiro, entregador de leite, começou como vocalista na banda do soberbo guitarrista Jeff Beck (disco imperdível do período: ‘Truth’) e formou com Ron Wood a banda Faces. Aos 63 anos, mantém o cabelo arrepiado que é uma de suas marcas registradas e nem o câncer na tiróide, que operou em 2000, tirou seu bom humor ou a potência de sua voz. Além de tudo, o cara é um grande ‘frasista’. Hoje, na Folha Ilustrada, mandou essa: ‘Agora já não jogo mais, fiz quatro operações no joelho. Assim como o Ronaldo, pobre Ronaldo... fiquei muito triste porque pra ele a coisa acabou. E é uma pena que não saiba cantar’. E antes de se casar com a atual mulher, no ano passado, disse: ‘Ao invés de me casar de novo, vou achar uma mulher de quem eu realmente não goste e simplesmente já dar uma casa pra ela’.

Conheci Rod em 1978 ou 79, não me lembro bem. Trabalhava na Warner e fui pro Rio acompanhar o cara no trabalho de lançamemto de ‘Blondes Have More Fun’, aquele disco cujo sucesso ‘Do Ya Think I’m Sexy?’ era um descarado plágio de ‘Taj Mahal’, do Jorge Ben. Rod estava hospedado na suíte presidencial do Copacabana Palace e depois de um pocket show apenas para privilegiados convidados no bar do hotel, subimos todos à suíte – músicos, técnicos e agregados – para come(bebe)morar a noite. Lá pelas tantas, depois de muita caipirrrinha e muito bourbon, Rod Stewart apareceu com uma bola, começou a afastar os móveis e propôs que jogássemos uma partida de futebol. Ninguém se opôs, é lógico. Depois de alguns vasos e espelhos quebrados, garagalhadas homéricas e muita canelada, não deu outra: fomos todos expulsos da suíte e continuamos a ‘pelada’ na areia em frente. Eram 5 e meia da manhã.

Grandes discos do grande Rod: ‘Gasoline Alley’ (1970), ‘Every Picture Tells a Story’ (1971), ‘Never a Dull Moment’ (1972), ‘Atlantic Crossing’ (1975), ‘Absolutely Live’ (1982) e 'Unplugged... And Seated’ (1993).

sexta-feira, 28 de março de 2008

Musas de Qualquer Estação

Já vou avisando: loiras não estão entre minhas favoritas. Mas é claro: faço exceções...
Uma delas, com certeza, é Michelle Pfeiffer. Rosto lindo, perfeito tipo mignon e bem propocionado. Mas não é só isso, evidentemente. Ela tem ‘aquilo’: um jeito de ser, de agir, de falar, de olhar... que é absolutamente cativante e sensual.

Nascida em 29 de abril de 1958 em Santa Ana, California, Michelle era, vejam só, discriminada na escola pela boca muito grande e pelo andar ’10 pras 2’. Por conta disso e do pai autoritário ao extremo, tornou-se uma menina reclusa, auto-destrutiva, rebelde e anti-social. Na adolescência, passou a andar com uma turma de surfistas, teve sua fase de drogada e com 16 anos, roubou o carro do irmão (um Mustang vermelho!) e deu PT entrando numa árvore. Depois do susto, entrou na faculdade de Psicologia, mas não gostou – parou e voltou duas vezes até abandonar de vez e ser ‘descoberta’ por um agente de modelos. Sem saber porque (afinal, achava-se feia demais...), passou a fazer fotos pra campanhas da Ford e do sabonete Lux, e entrou num curso de teatro. De lá pra televisão, foi um pulo. Começou sua carreira de atriz em séries de TV como 'Delta House', 'CHiPs' e 'B.A.D. Cats', até fazer sua estréia no cinema com 'The Hollywood Knights', em 1980 – um daqueles filmes idiotas sobre traquinagens universitárias nos EUA - e dois anos depois, ganhou o papel principal de 'Grease 2', mas só chamou mesmo a atenção geral no filme seguinte, o 'Scarface' de Brian de Palma, onde contracenou pela primeira vez com Al Pacino. Depois disso, destaque para ‘O Feitiço de Áquila’ (‘Ladyhawke’, de Richard Donner, 1985), agradável fábula romântica, e ‘As Bruxas de Eastwick’, em 87, ao lado de Jack Nicholson, Susan Sarandon e Cher. Depois de um curso sobre Filosofia Medieval (incentivada por ‘Ladyhawke’?) na Universidade de Los Angeles, Michelle estrelou – mais uma vez ao lado de Al Pacino – o delicioso ‘De Caso coma Máfia’ (de Johnathan Demme, 1988) e consagrou-se definitivamente em ‘Ligações Perigosas’ (de Stephen Frears, também de 88), filme que acabou marcando o final de seu casamento e o início de um affair com o co-protagonista, o ‘esquisitão’ John Malkovitch. Destaque ainda para ‘Susie e os Baker Boys’ (aquela cena dela cantando ‘Makin’ Whoopie’, em cima do piano... UAU!), ‘Frankie and Johnny’ (de novo com Pacino, em 91), ‘Batman – O Retorno’ – (o que é aquela MulherGato, dirigida pelo Tim Burton??) e ‘A Época da Inocência’, do grande Martin Scorsese em 1993.


Uma curiosidade: Michelle recusou o papel que depois foi vivido por Geena Davis em ‘Thelma & Louise’, assim como o da femme fatale protagonizado por Sharon Stone em ‘Basic Instinct’ e o depois aceito por Jodie Foster em ‘O Silêncio dos Inocentes’. Outro fato: segundo consta, Michelle Pfeiffer nunca fez qualquer cirurgia plástica...

quarta-feira, 26 de março de 2008

Espaço dos Sem Blog - 5a. Edição



Ele tem 25 anos e mil e uma habilidades; é, por exemplo, jornalista, músico e ilustrador. E é com dois exemplos dessa última atividade que Gabriel Rocha Gaspar comparece neste espaço. A ilustração aí de cima leva o título de 'Nóia'; a que está aqui embaixo, 'Haiti'.


No momento, Gabriel trabalha na equipe de desenvolvimento de uma novidade que promete sacudir a web.

O nome? Boozai.

O que é exatamente? Ele fala só que vai mudar totalmente a experiência diária de todo mundo com a Internet.
Em breve, saberemos...

Gabriel, além de tudo isso, é meu filho. Grande garoto!!

segunda-feira, 24 de março de 2008

Esqueleto no armário



A capa da Folha Ilustrada de hoje traz interessante matéria sobre ‘Ninguém sabe o duro que dei’, documentário de Cláudio Manoel (do Casseta & Planeta) sobre Wilson Simonal. Pra quem não sabe ou não se lembra, no final dos 60/comecinho da década de 70, Simonal era um artista de enorme sucesso – como bem coloca a matéria, sua popularidade só era maior que a de Roberto Carlos e o único negro mais famoso do que ele, no Brasil, era Pelé. Mas em 71, Simonal desconfiou que seu contador, Raphael Viviani, estava lhe passando a perna e teve a infeliz idéia de chamar uns ‘amigos’ pra dar um susto no cara. Os tais amigos, agentes do DOPS, deram tremenda surra no sujeito. A mulher do contador deu queixa, um dos agentes falou que Simonal era informante da ditadura e pronto: estava armado o cenário para a desgraça de Simonal. Embora jamais tenha sido comprovada a acusação de ‘dedurismo', por muito tempo seu nome foi como um palavrão evitado por todos e relegado a um estranho e mal explicado ostracismo - nunca totalmente entendido e/ou esclarecido. Banido pela classe artística e pela mídia, Simonal jamais se recuperou do exílio forçado; morreu há oito anos, carregado de mágoas e angústias.


O que parece claro é que o coitado do Simonal recebeu uma injusta ‘condenação’ moral e ideológica. O que importa, agora, é lembrar que ele era um cantor excepcional, dos melhores que o país já teve: afinação, dicção perfeita, balanço incomparável e versatilidade para flutuar pelo jazz, pelo samba e pelo soul em gravações antológicas como ‘Tributo a Martin Luther King’ e ‘Sá Marina’. No auge do sucesso, Simonal circulava pelo Rio e por São Paulo com roupas extravagantes, dirigindo carrões ao lado de loiras vistosas; na televisão, era o arauto de algo que foi batizado (ou batizou?) de ‘pilantragem’, que seria uma ‘releitura’ da velha malandragem carioca. Evidente que a postura ousada daquele negão incomodava muita gente, que parecia apenas esperar pela primeira oportunidade pra ‘ferrar’ com ele. Infelizmente, Wilson Simonal deu a munição perfeita para essas pessoas. E é lamentável que praticamente toda a ‘intelligentsia’ da época tenha aderido, sem questionar, a essa cruel condenação de um grande artista.

quarta-feira, 19 de março de 2008

...aqui me tens de regresso...

Ele é Sérgio de Magalhães Jaguaribe, mas não deve nem se lembrar da última vez que alguém o chamou por esse nome. Aos 76 anos, Jaguar é um ícone, um verdadeiro monumento da cartum e da charge (aliás, acho que ele ficaria puto de ser chamado de ‘ícone’ ou ‘monumento’, hehe...). Criador de tipos inesquecíveis como ‘Gastão, o Vomitador’, ‘Bóris, o Homem Tronco’ e o ratinho Sig, que ilustrava as páginas do Pasquim, Jaguar continua trabalhando – tem uma coluna semanal no Jornal O Dia, do Rio de Janeiro.

Selecionei uma resposta que ele deu em 2003, parte de entrevista sensacional publicada pelo jorrnal carioca Bafafá, que é distribuído de graça na Zona Sul e no Centro do Rio e que possui também uma versão online (http://www.bafafa.com.br/). E mais abaixo, trecho da coluna mais recente de Jaguar no O Dia. Não julgo ninguém; muito menos os Mestres como ele. Apenas registro, fico alegre, fico triste, aprendo e desaprendo.

PS: esse post é também uma homenagem ao Peri do Armazém Peri S.C. (http://armazemperisc.blogspot.com/), amigo que compartilha da admiração pelo Jaguar e que já publicou impagáveis cartuns do nosso Mestre. Mas vamos a ele:

2003:

Você escreveu “Confesso que bebi”. Não bebe mais?
- Eu não bebo mais? (risos). Tenho um amigo que teve uma crise de depressão e ligou para a psiquiatra avisando que ia sair comigo, para saber o que ela achava. Ela respondeu: “Já sei que você está perguntando se pode beber” (risos). Já tenho amigos que pararam de beber e que me evitam, porque sabem que eu bebo e bebo mesmo. E por que isso? Primeiro, porque eu gosto de ficar bêbado (risos). Segundo, porque sou mais inteligente bêbado do que sóbrio, e terceiro porque eu não tenho ressaca, sou privilegiado. Bebo todas as bebidas, desde que não seja doce. Eu tenho garrafas de whisky em quase todos os lugares. Eu compro a garrafa, levo uma porrada, pois pago R$ 70, R$ 80. Mas no dia seguinte, eu tenho a impressão de que estou bebendo de graça (risos). Normalmente começo tomando Steinheger, passo para o chope e quando ele começa a ficar com aquele gosto enjoativo, entro no whisky puro sem gelo – acho um absurdo misturar uma bebida feita com tanto capricho com água brasileira. Depois, pra terminar peço um cafezinho e arremato com um Underberg, que é o melhor remédio

2008:

A Volta do Boêmio

O boêmio voltou novamente. Meio devagar, mas voltou. Depois de 90 dias a seco, resolvi dar alta aos médicos que me proibiram de beber desde o piripapo vascular cerebral que me acometeu. Por que? Porque continuava com as juntas enferrujadas, dores nas pernas, pés inchados. Decidi parar de ingerir cerveja sem álcool e de dar voltas no poste para me sentir tonto. Voltei a beber cerveja com álcool (sem álcool a gente ingere, com álcool bebemos). Destilados, nem pensar. Coisa pouca, 10 latinhas, o que dá 3,5 litros diários. O resultado? Continuei com juntas enferrujadas, dores nas pernas, pés inchados, mas menos deprê, voltando ao alegre convívio no bar, meu segundo lar.

Por falar em 3,5 litros, andei fazendo umas contas durante os dias intermináveis de abstinência obrigatória.. Bebo desde os 16 anos, o que soma 60 anos de birita. Nos primeiros 10 anos, bebi moderadamente. Como hoje, uns 3,5 litros por dia. Dos 26 aos 75, enfiei o pé na jaca, na base de oito litros por dia. Confiram: dá 150.960 litros de cerveja em 60 anos. Bebi ao longo desses últimos 60 anos, 154 caminhões-pipa de 1.000 litros cada. Isso sem falar nos destilados, cachaça, whisky, steinheger, underberg e outros menos votados. Não se preocupe: temporão, parei de dirigir.

segunda-feira, 17 de março de 2008

O grande nó


Há alguns dias, sucedem-se as notícias reportando a sucessiva superação de recordes na extensão de ruas e avenidas congestionadas em São Paulo – já ultrapassamos a inacreditável barreira dos 200km e o dia em que a cidade parará completamente, parece cada vez mais próximo. Hoje, na Folha de S.Paulo, dois editorialistas e um articulista convidado, além de três leitores, escrevem sobre o tema. O primeiro deles, Fernando de Barros e Silva, lembra um conto de Julio Cortazar, ‘A auto-estrada do Sul’, que inspirou o filme ‘Weekend à Francesa’, de Jean Luc Godard, e que narra um congestionamento infernal entre Fontainebleau e Paris. Os personagens passam horas, dias inteiros entalados no trânsito. “Quando, sem explicações, o nó desata, os motoristas aceleram sem que já se soubesse para que tanta pressa, por que essa correria na noite entre automóveis desconhecidos onde ninguém sabia nada sobre os outros, onde todos olhavam para a frente, exclusivamente para a frente”. Barros e Silva, entretanto, não sugere absolutamente nada para tentar resolver o problema.

Já o articulista convidado, deputado Beto Albuquerque (do PSB-RS), faz um enorme preâmbulo para depois descobrirmos que trata-se apenas de um alforrábio de auto-promoção: fala da lei proposta por ele, de fiscalização e comprovação da embriaguez do condutor. O número de acidentes automobilísticos causados pelo álcool é algo realmente absurdo e preocupante, mas o cara se vale de uma situação de urgência no trânsito para chamar a atenção para si próprio e para um problema cuja resolução, nada ajudará na melhoria do trânsito em São Paulo.

Quem dá uma bola dentro é Ruy Castro, que começa seu artigo citando Marshall McLuhan, que em 1968 disse terem as rodas se tornado a extensão do ser humano. Errou: foi o contrário que sucedeu. Como prova disso, Ruy menciona o destaque dado “pelos on-lines, jornais e TVs ao trânsito e às enchentes. Ocupam muito mais espaço do que a morte de, pelas estatísticas, 1,2 motoqueiro por dia em São Paulo. A informação de que há ‘congestionamento’ ou ‘pontos de alagamento’ em tal região é mais importante que a tragédia de um motoqueiro morto ou o estropiamento físico de outros seis ou sete. E que se remova logo o cadáver para o trânsito voltar a ‘fluir’”. Além disso, Ruy nos coloca diante de mais uma reflexão importante: “... um dos momentos do estrangulamento é que, hoje, qualquer pessoa pode comprar um carro e pagá-lo em até 72 meses. Significa que esse carro só será quitado daqui a seis anos. Mas, muito antes, já terá ficado tão velho que precisará ser trocado por outro. Sem problema: dá-se a furreca de entrada e liquida-se o resto em mais 72 meses, num endividamento que, pelo visto, só termina com a morte. Para isso nasceu o ser humano?”. O Ruy tem a sua razão, mas aí entra uma outra questão: quer dizer que agora que uma multidão das classes C e D possui facilidades de crédito, vai-se negar a eles o direito de ter o sonhado carrinho? Ou pior: culpá-los pelo congestionamento? Mas não foi essa a idéia que o capitalismo selvagem jogou na cara de todos? O status, a necessidade de ter, de comprar? E enquanto a farra estava entre os ricos, os que podiam, tudo bem... agora que a pobretada consegue uma chance, corta-se o barato? Tá errado...

Nenhum dos citados articulistas sequer comentou a necessidade de investimentos e de moralização do transporte público, ou o incentivo político (e principalmente, físico, estrutural) à utilização de bicicletas; também não se falou em estratégias que motivem a ‘carona solidária’ ou que incentivem, junto às empresas ou as próprias autarquias públicas, o trabalho em casa (com internet, isso hoje é viável e produtivo para muitas profissões). Não, nada disso. Lamentável...

quarta-feira, 12 de março de 2008

Quem é, simplesmente é

Ela seria a homenageada de amanhã no ‘Musas de Qualquer Estação’. Mas me antecipo e falo agora sobre Jane Birkin, já que o show que assisti ontem, no Bourbon Street, me arrebatou.
Musicalmente, de extremo bom gosto, sutileza e originalidade: três músicos se revezavam entre instrumentos diversos, construindo combinações criativas e inusitadas entre harpa, xilofone, piano, violino, bateria, teclado, bandolim, contrabaixo, banjo. E Jane Birkin, o eterno ícone da sensualidade - que protagonizou o primeiro nu frontal do cinema ‘não-erótico’ (em Blow-Up, de Antonioni) e escandalizou os moralistas de plantão em 1969 com a gravação de ‘Je t’Aime Moi Non Plus’ (ao lado do ex-marido, o genial Serge Gainsbourg) - continua atraente, estilosíssima e elegante, mostrando aos 61 anos, como se envelhece com dignidade.

O repertório (que tinha Tom Waits, muito Gainsbourg, composições próprias e até Caetano), os arranjos, a voz sussurrada e afinadíssima de Birkin, sua simpatia ao conversar (muito) com o público, misturando francês e inglês entre uma música e outra.... foi realmente uma grande noite.

Jane Birkin é a mais francesa das inglesas e consegue juntar o que há de melhor, de mais bacana, em cada uma dessas nacionalidades. E tudo com extrema simplicidade.


Ela não precisa de artifícios, não faz jogo de cena, parece que sobe ao palco com a mesma roupa que usa no dia-a-dia, quase não usa maquiagem – é naturalmente cool.

Saí do show me lembrando de uma frase do Caetano (sempre ele...): ‘cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...’

terça-feira, 11 de março de 2008

O 'novo' jornalismo

No sábado (ou terá sido no domingo?), a coluna de Mônica Bérgamo na Folha de S.Paulo foi inteirinha sobre a turminha do 'andar de cima' que gasta 100, 200 ou sei lá quantos mil reais nas festinhas infantis de seus pimpolhos; hoje, traz fotos e mais fotos, além de gastar mais de meia página de 'texto' (???), sobre os convivas que compareceram ao suntuoso casamento do filho do odioso presidente da Fiesp com a filha de um empresário multimilionário (OBS: não há uma única foto do casal de pombinhos).

O que será que o jornal e/ou a colunista pretendem com coisas desse tipo? Escolha a sua resposta:

A) Concorrer diretamente com a Revista Caras e com os demais veículos da idiotice ostentatória nacional.

B) Dar um tapa na nossa cara, nos ofender mesmo, já que fazemos parte da grande maioria da população que batalha arduamente pra pagar suas contas, enquanto meia dúzia de perdulários insensíveis gastam até 25 mil reais num arranjo de balões de gás de festinha infantil.

C) Já que a maioria da população não lê jornal e muito menos a coluna da referida senhora, a intenção é deixar cada vez mais explícita para eles mesmos, poderosos, a divisão que existe e deve continuar existindo no Brasil. Afinal, não importa se o país tem um presidente que governa para a maioria (veja post abaixo); nós, poderosos, continuaremos usufruindo das benesses de viver no Riquistão. O Brasil, aquele país pobre (e com quase todos pretos), que fique com seu presidente analfabeto.

D) Pelo contrário: com 'matérias' desse tipo, o que se pretende é, subliminarmente, instaurar o ódio nas classes menos favorecidas, fomentando a revolta e pavimentando o caminho para uma revolução.

E) Nenhuma das anteriores: Bérgamo e a Folha só estão fazendo o seu trabalho de jornalismo honesto, documentando eventos e um modo de vida que é de interesse da muita gente.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Vai para o trono ou não vai?


Foi retumbante a passagem de Lula pelo Rio de Janeiro na última sexta-feira, para anunciar o início das obras do PAC em três dos mais populosos e violentos conjuntos de favelas da cidade (ou do Brasil? Ou do mundo?): Alemão, Manguinhos e Rocinha. No total, serão investidos cerca de R$ 1,14 bilhão em obras de reurbanização que incluem construção de moradias, escolas, unidades de saúde, água, esgoto, pavimentação de ruas, iluminação e áreas de lazer. Parte da verba será utilizada, também, para a construção de um teleférico no Complexo do Alemão. Sob um calor de 40 graus e os vivas de uma considerável multidão, Lula discursou em cada um dos três locais, sempre sob a ‘permissão’ e a ‘proteção’ dos líderes comunitários e dos chefes do tráfico. A matéria publicada pela Folha no sábado relata inclusive algumas frases dos ‘trafica’, em seus radio-comunicadores (sim, é claro que eles têm!), interceptadas pela Polícia Federal pouco antes da visita do presidente:
“Atenção! Vamos apagar a luz agora (desligar os aparelhos), devido ao presidente".
"Aí mano, vamo falar menos e ficar mais ligado, valeu? É o cara (Lula) que tá aqui. Tá dominado, irmão, tranquilão e dominado. Tudo na paz, deixa o hômi...".

Engraçado se não fosse trágico, esse brasilzão. Eita!
Mas vamos a algumas frases do Lula, particularmente ‘inspirado’ na última sexta-feira...:

“Eu sou filho de uma mulher que nasceu e morreu analfabeta, sou filho de uma mulher que morou em lugar que dava enchente de 1,5m dentro de casa. Acordava à meia-noite com rato, barata, fezes dentro do quarto”

“Digo à meninada aqui que desemprego é duro, é difícil, é algo quase impossível de suportar. Mas não é razão pra trabalhar para a bandidagem. Eu já tive vontade de roubar uma maçã pra espantar a fome, mas resisti pra não envergonhar a minha mãe”.

“A Dilma é uma espécie de ‘mãe do PAC’. É ela que cuida, acompanha, que vai cobrar se as obras estão andando ou não estão. O Pezão (Luiz Fernando Pezão, vice-governador e secretário de obras do Rio) é grandão, mas ele vai saber o que é ser cobrado pela Dilma porque a obra atrasou, porque não andou... porque se não for assim, a coisa não acontece. A gente anuncia, o governador fica feliz, eu fico feliz e depois a gente volta pra casa e as coisas continuam como antes”.

“E por conta das circunstâncias, Deus fez com que eu anunciasse o começo dessa obra do PAC exatamente agora, no momento em que não disputo mais eleições no Brasil”.

“Quando for inaugurado o teleférico, as mudanças aqui serão tão grandes que a população de Ipanema vai querer subir aqui pra ver ‘o que vocês ganharam’”.


Hehehe, cada vez gosto mais do Lula...

sexta-feira, 7 de março de 2008

Musas de Qualquer Estação



Vanessa Redgrave, Marina Silva, Angela Davis, Marilena Ansaldi, Kate Winslet, Bete Mendes, Susan Sarandon, Dilma Roussef, Jane Birkin, Rose Marie Muraro, Segolène Royal, Marta do futebol feminino, Michelle Bachelet, Isabel do vôlei, Amy Winehouse, Marisa Monte, Maria de Medeiros, Lygia Fagundes Telles, Helena Bonham Carter, Soninha Francine, Erikah Badu, Rita Lee...


Mulheres, várias, musas diversas que me ocorrem assim, numa primeira ‘leva’. É através delas que homenageio todas, antecipando-me ao Dia Internacional da Mulher que se celebra amanhã.

É uma bobagem esse negócio de Dia da Mulher? Provavelmente, sim. Mas seria pior se não houvesse pelo menos uma data para que se fale de coisas que não precisariam ser lembradas e sim, incorporadas ao nosso DNA.

E esse post serve também para mostrar que não há nada de machismo ou exploração vulgar da mulher, nesta série ‘Musas de Qualquer Estação’.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Good news

Duas notícias me chamaram especialmente a atenção no jornal de ontem.

A primeira dá conta que o deputado Fernando Gabeira aceitou concorrer à Prefeitura do Rio de Janeiro, pela coligação PV, PSDB e PPS. É uma ótima novidade: a campanha ainda nem começou, mas já despontavam os nomes dos famigerados Marcelo Crivella e Wagner Montes como favoritíssimos. O segundo, ainda bem, já desistiu; e agora surge a alternativa Gabeira. Tenho lá meus ‘senões’ em relação ao deputado, mas ele representaria, sem dúvida, um sopro de novidade e esperança para o sofrido e maltratado Rio de Janeiro. E também gostei das condições que ele impôs para aceitar a candidatura. São elas: sua campanha não será de oposição aos governos federal e estadual, mas centrada nos problemas da cidade; os dados das contas de campanha serão totalmente abertos na Internet; a campanha não deve atacar adversários e nem sujar a cidade; e se vencedor, o prefeito não aceitará indicações políticas para cargos no governo.

A outra notícia é sobre o discurso do ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, na abertura da sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra. Comentando o recente relatório da ONU que apontou abusos graves no Brasil, como casos persistentes de tortura policial, racismo, e corrupção no Judiciário, entre outros, Vanucchi afirmou que "é preciso usar de franqueza e humildade, e reconhecer que o documento traz uma análise justa e precisa, refletindo a realidade do país". É a primeira vez que vejo alguém deste, ou de qualquer outro governo brasileiro, colocando o dedo nessa ferida imensa, cujos terríveis sinais são frequentemente varridos para debaixo do tapete, especialmente quando um órgão internacional se mete a dizer certas verdades incômodas, que são prontamente descartadas pelas ‘otoridades’ como intromissão indevida e outras bobagens similares, sob o manto de um tosco patriotismo. Muito bom, sr. Vannuchi: é sabido que o primeiro passo para a cura de uma doença, é a admissão dessa doença por parte do paciente.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Gênio da raça


Soube agora há pouco que morreu Jeff Healey, bom guitarrista de blues. Com apenas 41 anos, Healey lutava desde sempre contra um caso raro de câncer que já havia, entre outras desgraças, lhe deixado cego ainda na infância. Bem, falando em músico cego, me lembrei de Stevie Wonder. Esse é gênio, antena da raça, multi-instrumentista, compositor e cantor superlativo.

Foi do Stevie Maravilha, o melhor show que já vi na vida. E olha que, ‘modéstia às favas’, isso não é pouca coisa... afinal, entre os grandes espetáculos musicais que já vi, posso citar Peter Gabriel com Robert Fripp em Londres, Pretenders em início de carreira no Marquee (também em Londres), Pete Townshend no House of Blues de Chicago, Paul McCartney no Pacaembu, Rolling Stones (tb no Pacaembu), Eric Clapton no Olympia (só blues, sensacional!), Larry Corryel no Lone Star Cafe de Nova York, Sun Ra no Village Vanguard (tb em NYC), Alberta Hunter no 150 do Maksoud, João Gilberto no Cultura Artística, Egberto Gismonti com Naná Vasconcellos no Rio Monterey Jazz Festival (no Maracanazinho), Weather Report (no mesmo festival), Pat Metheny no Palace, a estréia dos Doces Bárbaros no Anhembi, os Novos Baianos no Teatro Municipal, Tom Jobim no Palace, Elis Regina no Anhembi, Peter Tosh (também no Anhembi), Miles Davis no Teatro Municipal, e ainda Dizzy Gillespie, Madeleine Peyroux, Robert Plant no Morumbi... ave maria, chega!!

Mas o show do Stevie no velho Palace foi simplesmente espetacular. Em primeiro lugar, do ponto de vista técnico, nunca ouvi um som ao vivo com aquela qualidade. Era uma super-banda, com dois tecladistas (além do próprio Stevie), dois guitarristas, baixo, bateria, percussa, naipe de metais e três backing vocals. Além dessa banda, uma orquestra de cordas com mais de vinte integrantes. Detalhe: todos tocando juntos, o tempo todo. E ouvia-se tudo, nada se perdeu apesar da massa sonora. E a dinâmica dos arranjos, o repertório impecável, a presença carismática de Stevie Wonder, sua voz impressionante...

Confesso que não tinha ‘ouvidos’ para Stevie Wonder até os vinte e poucos anos. Fui ‘despertado’ para a sua música, para a sua genialidade, por obra e graça de uma pessoa muito especial, a quem devo muito. E foi uma felicidade ‘descobrir’ Stevie Wonder. Além de trazer em sua música uma completa e original síntese do que há de melhor e mais importante da black music das últimas décadas, Stevie é um dos raros artistas que alcançou a síntese da ‘música pop perfeita’: aquela que é ‘fácil’ e possui melodia envolvente e ‘grudenta’ – tudo isso sem abdicar de uma extrema qualidade de composição, execução e interpretação.

Títulos obrigatórios na extensa discografia de Stevie Wonder: ‘Jazz Soul of Little Stevie Wonder’, ‘Talking Book’, ‘Innervisions’, ‘Songs in the Key of Life’, ‘Hotter than July’, ‘Jungle Fever’, ‘Conversation Peace’. Em tempo: o disco mais recente do cara, ‘A Time 2 Love’, é mais uma vez, espetacular. Stevie Wonder Forever!!!