quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Musas de Qualquer Estação


Esqueça aquelas starlets, ex-modelos e/ou arrivistas. Catherine Élise Blanchett, australiana nascida em 14 de maio de 1969, pertence ao departamento das atrizes de verdade, com sólida formação acadêmica e opiniões firmes e bem fundamentadas sobre a sua profissão e sua trajetória profissional. Em 1993, somente um ano depois de concluir o curso no National Institute of Dramatic Arts de Sydney, Cate já estreava como atriz principal, ao lado de Geoffrey Rush, na montagem local da peça 'Oleanna', de David Mamet. Primeiro trabalho, primeiro prêmio: o de Revelação do Ano pela associção dos críticos de teatro da Austrália. Era o começo de uma consistente carreira no teatro - para muitos, a verdadeira prova de fogo da difícil arte da interpretação. Depois disso, encenou Shakespeare, fez mini-séries para a TV australiana e estreou no cinema ao lado das também superlativas Glenn Close e Frances McDormand em 'Paradise Road', de Bruce Beresford (1997).

Mas o primeiro papel de destaque internacional de Cate Blanchett foi o da Rainha Elizabeth I da Inglaterra, em 1998, no filme 'Elizabeth', de Shekhar Kapur, papel que retomaria em 2007 com 'Elizabeth: the Golden Age', do mesmo diretor - um raro caso em que a sequência supera o original. Mas Cate tornou-se um rosto realmente 'popular' ao encarnar uma espetacular Galadriel na série ´O Senhor dos Anéis', de Peter Jackson, entre 2001 e 2004. "Queria muito ter aquelas orelhas pontudas", disse na época. Cate foi também Katherine Hepburn, no subestimado 'Aviador' (2004), de Matin Scorsese - ganhou um Oscar pelo papel.

Impressiona a lista de ótimos diretores e papéis importantes na carreira relativamente curta de Cate Blanchett. Para citar somente alguns: 'The Shipping News' (de Lasse Halstrom, 2001),'Veronica Guerin' (Joel Schumacher, 2003),'Coffee and Cigarettes' (Jim Jarmusch, 2003), 'A Vida Aquática com Steven Zizou' (Wes Anderson, 2004), 'Babel' (Alejandro González Iñárritu, 2006), 'The Good German' (Steven Soderbergh, 2006), o mais recente 'Indiana Jones' (Steven Spielberg, 2008) e 'O Curioso Caso de Benjamin Button' (de David Fincher, 2008). Ah! E eu não poderia deixar de dizer que Cate Blanchett está sensacional como um dos Bob Dylans de 'I'm not There' (de Todd Haynes, 2007).


Depois de viver na Inglaterra desde o início da década, há pouco mais de um ano Cate Blanchett voltou a morar na Austrália. Ela e o marido, o dramaturgo e diretor teatral Andrew Upton, assumiram a direção da Companhia de Teatro de Sydney. O casal vive em um chácara nos subúrbios da cidade, com seus três filhos: Dashiell John, Roman Robert e Ignatius Martin. Ufa! E com tudo isso, ela ainda é linda desse jeito... Precisava??

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Tim Maia!!!


Era 1995 e a música brasileira chorava a recente perda de Tom Jobim (em dezembro de 94), enquanto os Mamonas Assassinas dominavam o mainstream do rádio e da TV. Em um apart-hotel dos Jardins, em São Paulo, Tim Maia recebia os jornalistas Marcio Gaspar e Lauro Lisboa Garcia para uma entrevista cujo mote era o lançamento do disco “Nova Era Glacial”. Lauro, repórter do Caderno 2 de O Estado de São Paulo, que publicaria poucos dias depois (assim como o Jornal da Tarde), alguns trechos da conversa; e Marcio, da Qualis, efêmera revista paulista especializada em música, que fecharia suas portas antes da publicação da entrevista.

A maior parte da memorável conversa com Tim Maia, que morreria três anos depois (em 15 de março de 1998), permanecia inédita até agora. A entrevista (quase) completa está no número mais recente da revista 'Brasileiros', que acaba de chegar às bancas. E é possível OUVIR a entrevista NA ÍNTEGRA (com excelentes 'localizações' do Gabriel) no blog http://www.afroencias.com.br. A visita é obrigatória!

Às 9 horas daquela manhã de 1995, encontramos um Tim Maia surpreendentemente bem disposto. E como era de seu feitio, o cantor não mediu as palavras, não se preocupou em poupar esse ou aquele, não fez média. Como se pode conferir, além do imenso talento musical, a autenticidade de Tim Maia era outra de suas melhores qualidades. A seguir, um breve aperitivo.

Existem vários empresários que já armaram pra ganhar dinheiro comigo. Teve um empresário uma vez aqui em São Paulo, em Campinas, que na hora de entrar no palco, ele falou: “Tim Maia, é o seguinte, aí:” – naquela época o show era duzentos, não sei o que era, mas era duzentos – “te dou cenzinho agora e tu volta pro hotel...”. Eu: “Tu tá maluco, cara? São quatro horas da manhã!”. Nesse dia, foram 32 mulheres pro hospital e nós fomos retirados lá do ginásio no tal do Tático Móvel. Pessoal muito educado que vai chegando assim: “filho da puta!” Isso é o mínimo que eles falam, né? Era tudo preto ainda. “Vai, crioulo filho da puta!”. E isso tudo com um cassetete que dá choque. Eles encostam o cassetete na pessoa e “tchen!”. Mas nós fomos retirados desse clube por um tático móvel, às cinco horas da manhã, porque teve uma porrada geral no clube porque o cara armou duzentos e no final queria cenzinho, metade do cachê. Tem uns caras de show aí que são meus amigos até hoje, mas que fizeram um boato que porra... minha mãe ainda era viva, foi mó problema, minha mãe passou mal essa noite. Disseram que eu tava com câncer no cérebro. As pessoas ligavam pra minha casa, uma loucura, até o dia que me mataram mesmo: “Tim Maia morreu”. Falaram pra minha irmã: “A senhora sabia que seu irmão faleceu?”. (Ela): “Meu irmão tá dormindo aqui, doidão!”. Então, tem esses folclores que são uma merda. Porra, é que nem aquele negócio que você tava falando de dar esporro nos músicos. O que os músicos arrumaram de confusão ninguém fala. Essa ação que eles me moveram foi cruel, pô. Achei muito desonesto. E não é negócio de R$ 5 mil. É o que eu tô te falando: eles já me levaram quase R$ 400 mil, cara. Troço pra você comprar três apartamentos. O meu carro é um Monza, cara. Eu poderia estar com um Mitsubishi 446, um BMW, bla bla bla, e tô pagando músico, R$ 100 mil cada um. Esse dos R$ 117 mil foi foda, cara. Sabe o que é o cara te levar R$ 117 mil, cara? Dinheiro que eu economizei minha vida inteira, cara! A minha vida inteira trabalhando, o dinheirinho que eu tinha lá ele levou. É muito difícil falar isso porque é foda, mas no Rio de Janeiro o achaque vem de tudo quanto é lado – não é só assaltante e sequestrador não, sabe?


Muito místico, nosso Brasil é muito místico... o que não é verdade mesmo é tomar ayahuasca e dizer que é Santo Daime – isso aí é mó mentira, viu (risos)? É ayahuasca mesmo, aquilo é mó viagem! Sorvete vira beterraba, helicóptero vira máquina de passar roupa, morou? E dão pra criança. Isso aí, não. Faz um mal tremendo ao fígado! Pior troço que tem pro fígado é a chacrona, que eles chamam de Santo Daime. De Santo, o Daime não tem nada! Chama-se ayahuasca, os índios adoram! Toma aquela porra, fica viajando pra caralho. Aí, isso não tem nada a ver com a realidade, isso aí já é uma coisa totalmente mística mesmo – uma erva que faz você viajar, pensando que aqui tá aqui e aqui não tá, tá lá. E fica aquela confusão do cacete. Eu digo assim, conscientemente, caretinha, sem tomar nada, sem nenhum ritual, sem incenso.


A maconha já tá liberada; a cocaína e a pena de morte também. Isso já tá liberado no Brasil faz tempo. Quer mais maconha do que no Brasil? O Brasil é o maior produtor de maconha do mundo! Ninguém planta mais maconha do que o Brasil. E Pernambuco é o estado onde mais se planta maconha no mundo. E o brasileiro é o maior maconheiro do mundo! Alcoólatra também, por excelência, mas queima um fumo violento! Todo brasileiro queima fumo: vai lá no Norte, puta que o pariu, todo mundo gosta... no Sul, também adoram. Todos, todo mundo! Então acho que é uma demagogia do cacete. Poderia se plantar isso aí e colher bons frutos, uma maconha boa, THC bem forte... o haxixe, por exemplo, é a melhor coisa que tem pra acalmar os ânimos, não faz mal pra ninguém, é bom pra glaucoma. Acho uma estupidez, uma demagogia do cacete, proibir fumo, entendeu? O fumo é uma planta, uma coisa natural... eu fui intimado duas vezes nessa semana, pra ir na polícia. Eu não vou em lugar nenhum. Tem um cara lá que foi preso, deram porrada no cara pra ele dizer que trazia haxixe pra mim. Daí, em juízo, o cara falou que não era nada disso, que levou porrada na delegacia, na 27ª, lá em Brás de Pina, no Rio de Janeiro. Daí, fui intimado e mandei meus advogados lá...volta e meia tentam me envolver nessas porras aí, cara, e por causa de haxixe. Ainda se fosse cocaína, heroína... mas haxixe? É uma estupidez. THC... cannabis... proibir a cannabis e liberar o álcool é a maior loucura, uma coisa porca, suja, imunda, mentirosa! Porque o álcool destrói o ser humano em poucos anos, em meses. Se você beber mesmo, o teu figueiredo não agüenta. Eu mesmo, não posso beber mais. E olha que eu não bebia muito, hein? Eu só bebia quando fazia show e quando andava de avião.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

It was twenty years ago today! No, it was 29 years ago yesterday...


Incrível, mas ontem fez 29 anos do assassinato de John Lennon por aquele imbecil limítrofe que já havia estado com ele e conseguido um autógrafo - de manhã, quando o artista saía de casa -, e que o esperou até a sua volta, à noite, para matá-lo com três tiros, na entrada do edifício Dakota, em Nova York.

Na época, eu trabalhava na Warner Discos - e minha função era justamente alimentar a imprensa brasileira com notícias sobre os artistas e lançamentos da gravadora. E nos preparávamos para o lançamento do primeiro disco de Lennon após cinco anos de silêncio, 'Double Fantasy'. Por conta disso, quase diariamente recebia relatos do desenvolvimento e da finalização do trabalho de produção do disco, diretamente da Geffen Records de Nova York. Oportunidade maravilhosa para um beatlemaníaco como eu.

Me lembro daquele longínquo dia em que meu pai chegou em casa, chamou os filhos e disse algo como: 'Trouxe aqui um disco de uns sujeitos de quem vocês ainda vão ouvir muito'. Era o 'Help', dos Beatles; e era a minha entrada (sem porta de saída) no universo do rock e da cultura pop.

Prepotente, ingênuo, farsesco, ressentido, equivocado, excessivo, inconsequente, visionário, pioneiro, genial. Todos esses adjetivos cabem na definição da personalidade de John Lennon. E todas essas facetas estão presentes no documentário 'Imagine', produzido por Yoko Ono alguns anos após sua morte, disponível em DVD e que, sem dúvida, recomendo.

Tão incrível quanto nos darmos conta de que já entramos no trigésimo ano pós-assassinato de John Lennon, é lembrarmos de que ele morreu aos 40 anos, recém-completados. Quarenta anos! O que estaria fazendo hoje? Em que causas estaria envolvido? Ainda estaria com Yoko? E sua relação com Paul McCartney? Estariam finalmente resolvidos, apaziguados?

Abaixo, trecho do documentário 'The Rolling Stones Rock n' Roll Circus', de 1966. Traz a primeira apresentação de Lennon sem os Beatles - e ao lado de Keith Richards, Eric Clapton e do baterista Mitch Mitchell, que tocava com Hendrix. A música é 'Yer Blues', faixa do excepcional 'White Album', dos Beatles.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Amor à primeira vista!


Até ontem, quando os jornais publicaram uma foto dela ao lado do Lula, nunca havia visto ou ouvido falar de Yulia Tymoshenko, primeira-ministra da Ucrânia. Mas a beldade já cumpre o seu segundo mandato no cargo e é favorita para as eleições presidenciais em seu país, que acontecem em janeiro. Uma rápida pesquisa sobre Yulia levou-me a descobrir que trata-se de uma das maiores fortunas das ex-repúblicas soviéticas – aquela gente que enriqueceu (em sua maior parte, ilícitamente) assim que o fim da URSS gerou uma onda de privatizações. ‘La’ Tymoshenko foi diretora geral da Ukranian Petrol Corporation e depois, presidente da United Energy Systems of Ukraine, a maior importadora de gás natural da Rússia. Nessa época (1996), ficou conhecida em seu país como ‘Princesa do Gás’ (hummm… meio ambíguo esse título) e foi acusada de revender enormes quantidades de gás roubado e assim, driblar o fisco. Apesar disso, no mesmo ano foi eleita para o parlamento ucraniano, com a incrível marca de 92,3% dos votos válidos.

Cresceu rápido na política: em 99, tornou-se Ministra da Energia e começou uma surpreendente e feroz batalha contra as oligarquías do setor. Dois anos depois, foi demitida do cargo e presa em seguida, sob a acusação de enriquecimento ilícito em seu passado como empresária. Quando saiu da prisão, alguns meses depois, Yulia formou um tal Comitê Nacional de Salvação e passou a liderar protestos contra o governo em todo o país. A polêmica que cerca a fortuna conquistada por Yulia Tymoshenko não a impede de ser uma verdadeira superstar da política e do ‘mundanité’ no Leste Europeu. Já foi eleita a terceira mulher mais poderosa do mundo pela Revista Forbes e há poucos anos, sua única filha casou-se com o guitarrista de uma obscura banda inglesa de heavy metal – consta que os noivos e padrinhos (Yulia inclusive) foram e voltaram da igreja pilotando possantes Harley-Davidsons. Ou seja: longe de mim querer fazer juízo de valor sobre o enriquecimento de Yulia ou sobre os meandros da política ucraniana. O que motivou esse post foi a beleza ‘fria’ de Yulia e seu penteado. Aos 49 anos, ela parece ser um símbolo de força, orgulho e beleza para as mulheres da região, historicamente sofridas, exploradas e subjugadas. E o penteado de Yulia (que raramente aparece com os cabelos soltos, como na foto ao lado), virou sua marca registrada e hoje é moda entre as mulheres ucranianas.