sábado, 27 de junho de 2009

O Rei (já estava) Morto


Muito já se falou e muito mais ainda vai se falar, nos próximos dias e semanas, sobre Michael Jackson. Por isso, me limito a dizer que o cara foi genial - do Jackson Five ao 'Thriller'; depois, entrou em gradativa e vertiginosa decadência. Vítima do 'sistema', da família, e dele mesmo. Triste história.

Assisti ao show dele em 93, aqui no Morumbi. Foi um show estranho: me lembro que cheguei a pensar que, com tantos efeitos cenográficos, quase não faria diferença se Michael não estivesse no palco. Mas o que realmente me deixou decepcionado é que o show não tinha timing, elemento essencial para qualquer espetáculo pop. Entre uma música e outra, parada de dois a três minutos para troca de roupas e cenários. Ou seja: o show nunca chegou a esquentar, a pegar no breu. Erro básico e inconcebível para o Rei do Pop. Mesmo assim, é claro que MJ merece todas as loas e homenagens. Acima, matéria que escrevi no Jornal da Tarde em 1991. E abaixo, sensacionais interpretações - de Caetano para 'Billie Jean' e de Miles Davis para 'Human Nature'.

quarta-feira, 24 de junho de 2009


Não vi o filme 'Loki'', mas me cansa essa adoração, essa babação de ovo generalizada em relação ao Arnaldo Baptista. Nunca achei os Mutantes musicalmente 'geniais', não glamurizo a loucura do personagem Loki e nem tenho saco pras suas ultrapassadas elocubrações viajantes/lisérgicas. Prontofalei!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Não perca!!


"Doido", que a princípio terá apenas mais uma única apresentação – no próximo domingo, 14h30, no Teatro Eva Herz, que fica dentro da Livraria Cultura do Conjunto Nacional – é um emocionante ‘tour de force’ de um ator excepcional: Elias Andreato. Ele é o ‘one man show’. Escreveu, roteirizou e dirigiu a peça. Em cena, não conta com nada além de uma mesa, uma cadeira e alguns poucos objetos. Recursos de luz e de trilha sonora? Mínimos.

E mais: o espetáculo não possui uma história, um enredo ou uma trama. Elias ‘apenas’ discorre sobre a profissão de ator, sobre arte, sobre amor, sobre loucura, sobre a própria vida, enfim. E toma alguns trechos ‘emprestados’ de autores como Artaud, Maiakóvski, Rimbaud, Van Gogh, Cervantes, Shakespeare, Nietzsche, Nijinsky, Tchecov, Dante, Goethe, Oscar Wilde e Fernando Pessoa, entre outros. Poderia soar pedante e/ou erudito em excesso, mas ao contrário: o público se sente como que conversando com um velho amigo na sala de casa; e poderia ser monótono, mas não dá pra desviar a atenção do ator, por um minuto que seja.

Como é possível? Certas coisas não se explicam, mas arrisco dizer que o segredo desse “Doido” do Elias é a competência em mostrar, a cada pessoa do público, uma imagem multifacetada de um personagem fascinante e que pouco conhecemos: nós mesmos.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O canudo



E agora, essa polêmica chata da obrigatoriedade ou nâo do diploma de jornalismo...

Pra mim é difícil ter que ficar 'do mesmo lado' dos editorialistas da Folha, mas tendo a concordar com a não-obrigatoriedade. O diploma não atesta qualidade profissional, ainda mais com as faculdades que temos por aí, onde pululam e de onde jorram analfabetos 'funcionais' e/ou ignorantes completos. Fiz jornalismo na PUC, não aprendi porra nenhuma - aprendi mesmo foi na lida, na vida. Faculdade não vale de nada se o cara não estiver afim, se não estudar por conta própria, se não fizer 'a sua própria agenda'. Ao mesmo tempo, não acho que qualquer um seja apto a escrever em meio de comunicação, embora até isso já seja muito discutível na era da Internet. Como bem me ensinou hoje o meu filho, acredito que os cursos de jornalismo deveriam ser uma especialização de Humanas; aí sim, o diploma poderia ser obrigatório. Mas do jeito que é, melhor que não seja. E tem mais: os defensores do diploma me trazem à lembrança a exaltação do trabalho, do esforço, do estudo, do sacrifício, que é uma das piores heranças que carregamos da maldita formação católica-burguesa-moralista-ibérica. O trabalho enobrece o homem? Coisa nenhuma! É o ócio que enobrece o homem! O prazer liberta; o sacrifício do estudo é uma merda! Quer estudar? Que seja por prazer e pelo prazer. Quer trabalhar? Que seja por prazer e pelo prazer! O resto é discurso de classe dominante, é estratégia escravagista.

E pra completar: meu pai, que foi o melhor jornalista que conheci e com quem convivi, mal concluiu o curso colegial.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Segunda Sem Carne


Nada como o tempo pra curar velhas feridas... Paul e Yoko já haviam se aproximado quando do assassinato de John Lennon; depois, juntaram-se à Harrison, Ringo Starr e George Martin para organizarem, juntos, a sensacional caixa de DVDs 'Beatles Anthology', para a qual Yoko inclusive cedeu as gravações caseiras de duas músicas inéditas de Lennon.


Paul e as filhas Mary e Stella

Ontem, em um parque de Londres, lançaram juntos a campanha "Meat Free Monday", conclamando a todos para deixarem de comer qualquer tipo de carne, uma vez por semana. Disseram que isso traria um 'enorme benefício para o clima mundial'. Pode ser, mas não entendi lá muito bem a que eles se referiam. Vai diminuir o aquecimento global? Ou será que vai tornar mais 'amistoso' o clima entre as pessoas? Ou entre as pessoas e os animais?

Seja lá o que for, achei interessante a proposta humilde, até mesmo tímida, dos dois. Veja bem: eles não estão pedindo ou 'impondo' o vegetarianismo radical para a humanidade, não estão patrulhando o gosto pessoal de cada um, não estão ecochateando os outros como fazem os arautos do anti-tabagismo ou os pentelhos do politicamente correto. Eles pedem que se deixe de comer carne às segundas-feiras. Só isso.


Aqui, com Stella, Yoko e ao lado de Mary, o filho James

Com a palavra, Sir Paul: "Todo mundo, de maneira geral, exagera nos finais de semana: muita carne, muita bebida, muito tudo. Chega a segunda-feira, bate aquela ressaca e aquela culpa; uns vão fazer exercícios, outros apenas lamentam e seguem com suas vidas. Por que então não limpamos um pouquinho os nossos corpos todas as segundas-feiras, e de quebra ajudamos o meio ambiente?"

Ao mesmo tempo, Paul McCartney se prepara para iniciar, mês que vem nos EUA, uma nova turnê mundial. Legal ver esse cara ainda em atividade, ainda com tesão pra encarar uma maratona de ensaios, viagens, palcos, entrevistas e o escambau. Long live Sir Paul!!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Musas de Qualquer Estação


Conheci Marina há muito tempo, quando eu trabalhava na Warner, gravadora que se preparava para lançar o primeiro disco daquela cantora e compositora carioca totalmente original, diferente de tudo o que havia então. É dessa época a foto acima, de autoria do também amigo Paulo Vasconcellos. A própria atitude da artista na capa desse disco de estréia, 'Simples como Fogo'(1979), já prenunciava a novidade, a ruptura. Ficamos amigos. Marina ainda morava com os pais e os irmãos, em um apartamento no Jardim de Allah, no Rio, quando passei um final de semana em sua casa. Me recordo com prazer dos nossos passeios de carro pela orla carioca, e de nossas incursões pela noite. Muita conversa, muitas risadas... uma bela companhia!

Marina passou parte da infância e da adolescência nos Estados Unidos, onde se apaixonou pela soul music e especialmente, por Stevie Wonder. Em 1977, teve sua música 'Meu Doce Amor' gravada por Gal Costa, naquele que segue como um dos melhores LPs da baiana, 'Caras e Bocas'. E foi com o irmão Antonio Cícero que Marina encontrou seu 'eixo' musical, através de uma sequencia de ótimas músicas (e letras), marcantes de toda uma época. No começo de 1981, lançou o inspirado LP 'Olhos Felizes', mas foi no final desse mesmo ano que surgiu aquele que pra mim é o disco que se estabeleceu como parâmetro de uma música pop brasileira 'esperta' e de muito bom gosto: 'Certos Acordes' - uma obra-prima! O nível continuou alto nos lançamentos seguintes: 'Desta Vida, Desta Arte' (1982), 'Fullgás' (1984) - que tinha a frase genial, 'você me abre seus braços e a gente faz um país' - 'Todas' (1985), 'Virgem' (1987), 'Próxima Parada' (1989) e 'Marina Lima' (1991).

Em 1993, Marina lançou o igualmente bom 'O Chamado', disco que marcou o final de uma era para a artista. A morte do pai e uma série de outros problemas pessoais levaram Marina à depressão, ao fundo do poço. Infelizmente, ela nunca mais foi a mesma. O emocional em frangalhos afetou seriamente suas cordas vocais e Marina perdeu o chão. Cancelou turnês, sumiu dos estúdios, apagou. Em 96, lançou 'Registros à Meia-Voz', LP recheado de covers para músicas de Paulinho da Viola, Zélia Duncan, Christiaan Oyens, Roberto e Erasmo, etc. Em 1998, com 'Pierrot do Brasil', voltou a apresentar (boas) composições próprias, mas o fiapo de voz chegava a causar aflição. Em 99, como que tentando encerrar um ciclo de equívocos, fez constrangedor ensaio para a revista Playboy.

O novo século trouxe Marina de volta aos palcos com 'Sissi na Sua'... o qual vou até me abster de comentar. Depois, o 'Acústico MTV' (2003). Pouco antes desse lançamento, retomei contato com Marina, contratando-a para um show fechado para convidados de uma empresa à qual eu prestava serviços na época. O show foi um sucesso, mas confesso que fiquei muito preocupado e ao mesmo tempo comovido com algo que era evidente, ao menos pra mim: o esforço descomunal que ela fazia pra cantar. Em 2005, Marina estreou no Auditório Ibirapuera o show 'Primórdios', com bela produção, direção de Monique Gardenberg e uma visível evolução vocal. O show virou CD - que é superior aos anteriores mas ainda fica a milhas de distância de sua produção nos anos 80/90. Adoro Marina, sei de seu enorme talento e de seu esforço. E ainda espero aplaudi-la por muito tempo, e voltar a me emocionar com suas músicas. Se isso não for possível, tudo bem também; seu espaço nobre na música brasileira está mais do que merecidamente garantido.

O raro vídeo abaixo traz Marina e Tom Jobim em 'Lígia', gravada para um especial da TV Globo. Grande beijo, Marina!!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A girl with kaleidoscope eyes


Essa aí em cima é Lucy O'Donnell Vodden, reconhecida como a 'musa' inspiradora de 'Lucy in the Sky with Diamonds', um dos clássicos eternos dos Beatles. Lucy era colega de classe de Julian, filho de John Lennon, em uma creche de Londres. Um dia o menino chegou em casa e mostrou ao pai um desenho que ele havia feito na escola. Era Lucy no céu com diamantes, explicou.

Na época do lançamento da música (que era uma das faixas do genial 'Sgt.Peppers Lonely Hearts Club Band'), a letra 'psicodélica' e as iniciais - LucySkyDiamonds - levaram à especulação de que tratava-se de uma ode ao ácido lisérgico. E apesar da negativa de Lennon - que inclusive contou, na época, a história do desenho -, ninguém acreditou. E a suposta 'viagem de ácido' de John Lennon, naquela música, virou verdade. Ao ter sua história revelada - e confirmada por Julian e por sua mãe Cynthia - em 2007, pelo jornal inglês Daily Mail, a própria Lucy contou que cansou de dizer a amigos que ela era a personagem da canção e foi muitas vezes ridicularizada por amigos e até familiares: 'Que nada, essa música é sobre o LSD!'. Mas aí está o desenho de Julian que deu origem a tudo:



Hoje com 46 anos, a bonita Lucy acaba de ser diagnosticada com Lupus, doença incurável auto-imune. Ao saber da notícia, Julian enviou flores e declarou que vai visitar Lucy e oferecer toda a ajuda possível. Há quarenta anos eles não se vêem.







Picture yourself in a boat on a river,
With tangerine trees and marmalade skies.
Somebody calls you, you answer quite slowly,
A girl with kaleidoscope eyes.

Lucy in the sky with diamonds...

Cellophane flowers of yellow and green,
Towering over your head.
Look for the girl with the sun in her eyes,
And she's gone.

Lucy in the sky with diamonds...

Follow her down to a bridge by a fountain,
Where rocking horse people eat marshmallow pies.
Everyone smiles as you drift past the flowers,
That grow so incredibly high.

Newspaper taxis appear on the shore,
Waiting to take you away.
Climb in the back with your head in the clouds,
And you're gone.

Lucy in the sky with diamonds...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

terça-feira, 2 de junho de 2009

Voar... é do homem



Tenho um indisfarçável fascínio por desastres de avião.

Mas antes que me acusem de mórbido, masoquista, desalmado ou coisa pior, já digo que a atração que sinto por esses grandes acidentes aéreos não tem nada a ver com algum tipo de prazer doentio relacionado às vítimas: quem são, o que faziam, porque estavam viajando, as recorrentes histórias dos que iriam naquele vôo mas na última hora não foram, ou os desafortunados que não iriam ou não queriam, mas acabaram por ali estar. Como a maioria das pessoas, não consigo escapar desses relatos humanos que, em ocasiões como essas, inundam jornais, revistas, rádio, TV e internet. Mas o ponto que me liga a esses acidentes é a curiosidade em entender o que realmente aconteceu, como pôde aquele verdadeiro milagre da engenhosidade humana, fracassar de maneira tão retumbante - contra todas as probabilidades, contra todo o histórico. O que fez aquele específico Airbus da Air France integrar, a partir de ontem, a lista das exceções (aquelas aeronaves que, contrariando as estatísticas, insistem em 'cair')?

E sob esse aspecto, esse acidente de ontem é ainda muito mais 'interessante'. Afinal, é a exceção entre as exceções: apenas 6% dos acidentes aéreos ocorrem durante o chamado 'vôo de cruzeiro', quando a aeronave já está estabilizada. Ou seja, em pleno vôo, livre de qualquer procedimento ligado à decolagem ou à aterrissagem. Um bom artigo na Folha de hoje, assinado por Hélio Schwartzman, revela que, de acordo com o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos EUA, a chance de morrer ou sair gravemente ferido em um acidente aéreo é de 0,00003%. Essa cifra refere-se ao período entre 1982 e 2001, quando os EUA registraram uma média de 120 mortes por ano, decorrentes de acidentes aéreos. No mesmo período, 1000 pessoas morreram por ano, em acidentes com bicicleta, e 46 mil, por causa de desastres automobilísticos. Escreve Schwartsman:

'Assim, para que as mortes em voos de carreira nos EUA alcancem as registradas em acidentes automobilísticos, seria necessário que um Boeing com cerca de 125 ocupantes se estatelasse todos os dias da semana sem deixar sobreviventes. Tais comparações podem até soar tranquilizadoras quando estamos em terra, mas dificilmente reduzem a ansiedade do viajante prestes a embarcar, especialmente se ele já não gosta da idéia de atravessar um oceano a 11 mil metros de altura. De modo análogo, muita gente tem medo de ser devorada por tubarões, mas poucos receiam afogar-se na banheira. No mundo estatístico, entretanto, a possibilidade de o segundo evento ocorrer é 400 vezes maior do que o primeiro'.

O problema é que o mundo estatístico pertence ao racional, enquanto as fobias e emoções em geral estão no plano do irracional. Situação apavorante: você dorme tranquilamente, talvez sonhando que amanhã estará caminhando por Champs Elisèes e tomando um cafe au lait em algum bristô do Boulevard Saint Michel. De repente é abruptamente acordado; o avião, em queda livre, possivelmente lhe dará ainda a chance de alguns segundos (ou terão sido minutos?) de absoluto terror, antes de se espatifar no oceano escuro. Ao imaginar uma cena dessa, fica difícil levar em conta aquela estatística de 0,00003%, não é mesmo?

Bem, do ponto de vista das causas do acidente em si, em meio ao monte de bobagens e absurdos ditos nas últimas horas por pseudo-especialistas, há sempre algo que se salva. Analisando o (pouco) que se tem de informação até o momento, arrisco um palpite: o comandante do Airbus, experiente e soberbo, menosprezou a tempestade à sua frente. Não desviou o curso da aeronave e encarou de frente uma chuva de granizo oceânica, a 11 km de altura. Uma daquelas pedras espatifou o parabrisa do avião, matando instantaneamente piloto e co-piloto, causando uma despressurização violenta, a completa pane elétrica, o descontrole da aeronave, a queda livre.