quinta-feira, 11 de junho de 2009

Musas de Qualquer Estação


Conheci Marina há muito tempo, quando eu trabalhava na Warner, gravadora que se preparava para lançar o primeiro disco daquela cantora e compositora carioca totalmente original, diferente de tudo o que havia então. É dessa época a foto acima, de autoria do também amigo Paulo Vasconcellos. A própria atitude da artista na capa desse disco de estréia, 'Simples como Fogo'(1979), já prenunciava a novidade, a ruptura. Ficamos amigos. Marina ainda morava com os pais e os irmãos, em um apartamento no Jardim de Allah, no Rio, quando passei um final de semana em sua casa. Me recordo com prazer dos nossos passeios de carro pela orla carioca, e de nossas incursões pela noite. Muita conversa, muitas risadas... uma bela companhia!

Marina passou parte da infância e da adolescência nos Estados Unidos, onde se apaixonou pela soul music e especialmente, por Stevie Wonder. Em 1977, teve sua música 'Meu Doce Amor' gravada por Gal Costa, naquele que segue como um dos melhores LPs da baiana, 'Caras e Bocas'. E foi com o irmão Antonio Cícero que Marina encontrou seu 'eixo' musical, através de uma sequencia de ótimas músicas (e letras), marcantes de toda uma época. No começo de 1981, lançou o inspirado LP 'Olhos Felizes', mas foi no final desse mesmo ano que surgiu aquele que pra mim é o disco que se estabeleceu como parâmetro de uma música pop brasileira 'esperta' e de muito bom gosto: 'Certos Acordes' - uma obra-prima! O nível continuou alto nos lançamentos seguintes: 'Desta Vida, Desta Arte' (1982), 'Fullgás' (1984) - que tinha a frase genial, 'você me abre seus braços e a gente faz um país' - 'Todas' (1985), 'Virgem' (1987), 'Próxima Parada' (1989) e 'Marina Lima' (1991).

Em 1993, Marina lançou o igualmente bom 'O Chamado', disco que marcou o final de uma era para a artista. A morte do pai e uma série de outros problemas pessoais levaram Marina à depressão, ao fundo do poço. Infelizmente, ela nunca mais foi a mesma. O emocional em frangalhos afetou seriamente suas cordas vocais e Marina perdeu o chão. Cancelou turnês, sumiu dos estúdios, apagou. Em 96, lançou 'Registros à Meia-Voz', LP recheado de covers para músicas de Paulinho da Viola, Zélia Duncan, Christiaan Oyens, Roberto e Erasmo, etc. Em 1998, com 'Pierrot do Brasil', voltou a apresentar (boas) composições próprias, mas o fiapo de voz chegava a causar aflição. Em 99, como que tentando encerrar um ciclo de equívocos, fez constrangedor ensaio para a revista Playboy.

O novo século trouxe Marina de volta aos palcos com 'Sissi na Sua'... o qual vou até me abster de comentar. Depois, o 'Acústico MTV' (2003). Pouco antes desse lançamento, retomei contato com Marina, contratando-a para um show fechado para convidados de uma empresa à qual eu prestava serviços na época. O show foi um sucesso, mas confesso que fiquei muito preocupado e ao mesmo tempo comovido com algo que era evidente, ao menos pra mim: o esforço descomunal que ela fazia pra cantar. Em 2005, Marina estreou no Auditório Ibirapuera o show 'Primórdios', com bela produção, direção de Monique Gardenberg e uma visível evolução vocal. O show virou CD - que é superior aos anteriores mas ainda fica a milhas de distância de sua produção nos anos 80/90. Adoro Marina, sei de seu enorme talento e de seu esforço. E ainda espero aplaudi-la por muito tempo, e voltar a me emocionar com suas músicas. Se isso não for possível, tudo bem também; seu espaço nobre na música brasileira está mais do que merecidamente garantido.

O raro vídeo abaixo traz Marina e Tom Jobim em 'Lígia', gravada para um especial da TV Globo. Grande beijo, Marina!!

11 comentários:

Silvio Macedo disse...

Eu tenho o LP de 79!
Ela com aquele vestidinho preto...
Ah... e as músicas, ótimas!

anna disse...

gosto demais da moça.
uma pena esse longo silêncio.

Neil Son disse...

é, silvio... esse Lp tinha inclusive uma regravação muito legal do 'muito', do caetano.

Neil Son disse...

pois é anna, e hj temos que aguentar esse monte de anascarolinas...

peri s.c. disse...

Como diria meu velho pai : " vocês só veem os copos que eu bebo, não os tombos que eu levo ".

Neil Son disse...

genial a frase do progenitor, peri.

peri s.c. disse...

Lembrei dela em função do teu ótimo texto.
É dura a vida de artista ( pelos menos os sérios, claro ). Normalmente estão distante dos olhares públicos as aflições, as incertezas, as fragilidades ( suponho que enormes )pelas quais eles passam.

Neil Son disse...

é isso aí, peri. às vezes nos esquecemos que somos TODOS, apenas seres humanos. e obrigado pelo elogio (exagerado, com ceteza...).

jayme disse...

Gostava medianamente de Marina lá pelos anos 80, ouvia com gosto, Full Gás é uma dessas canções que ficam. Mas nunca a tive como uma grande cantora -- e sempre achei que aquele cantar rouco não ia acabar bem. Não há corda vocal que agüente aquela voz desempostada. Fiquei anos sem ouvir Marina, até que achei, agrimpando no You Tube, esse vídeo do link. Cliquei -- e tive uma imensa decepção. Cantando ao lado do maestro uma canção consagrada e já gravada por gente graúda, Marina evidencia uma série de cacoetes vocais e todas as limitações por trás deles. Acho que Marina se tornou uma mulher interessant(íssima) uns anos depois daquela foto lá de cima, mas como cantora, nunca me falou ao
ouvido.

Neil Son disse...

discordo, caro jayme. pra mim, antes de mais nada, é difícil separar as coisas: marina é (ou era) uma cantora original, de voz pequena mas muito bem colocada; éa também uma compositora de raro talento; toca guitarra e violão muito bem, e ainda é arranjadora. tudo isso junto faz dela, uma grande artista. e o problema que ela enfrentou em suas cordas vocais não teve nada a ver com a 'voz rouca'. exemplo de voz rouca (muito mais que a dela) que resiste ao tempo? rod stewart. e pra encerrar a lista de discordancias, acho maravilhosos esses recursos que voce chama de 'maneirismos' no video com o jobi. e consta que o maestro tb gostou muito.

googala.opsblog.org disse...

sempre linda