segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Monólogo não é para fracos...



Monólogo é um negócio complicado… Em primeiro lugar, imagino, para o(a) pobre coitado(a) em cena, naquela solidão imensa do palco… a pessoa ali, jogada à própria sorte, perante olhos e ouvidos de pessoas que aguardam, que requerem, que exigem, que esperam algo que as faça rir, chorar ou ao menos, que seja interessante o suficiente para manter a concentração no que está sendo dito ou feito pelo solitário personagem à sua frente. Alguma coisa forte o bastante para que se esqueça das contas a pagar, do trânsito enfrentado para se chegar ao teatro, dos filhos que sabe-se lá onde andarão, do chefe que não reconhece o seu trabalho e principalmente, do preço pago pelo ingresso.

A coisa deve ficar muito pior quando o ator ou atriz é também o autor ou autora do texto do monólogo. Aí, não tem jeito: a responsabilidade é mesmo, indicutível e pesadamente, só dele; ou só dela. É muita coisa para um pobre mortal, né não? Por isso tudo, respeito e admiro quem se propõe a encarar esse desafio verdadeiramente incrível. Patrícia Gasppar enfrenta o touro de frente em ‘Futilidades Públicas’. E vence a batalha, com muitos méritos. Patrícia arrasa, literalmente. Interpreta aquele papel difícil, da mulher de meia idade, de vida comum, essencialmente desisnteressante e que flerta com o fracasso, com humor, garra, entrega e acima de tudo, com enorme talento. Por quase uma hora, tem o público na palma de sua mão. ‘La hermana’ é realmente demais. E pra quem me conhece, sabe que eu não diria isso se assim não considerasse.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A Felicidade na Melancolia



É bom, muito bom mesmo, 'Melancolia', o filme de Lars Von Trier que ficou eclipsado pelas infelizes declarações do diretor em Cannes e pior, deu chance para que o enfadonho e cafona 'Árvore da Vida' levasse a Palma de Ouro. Felizmente a poeira baixou e dá pra assistir 'Melancolia' com distanciamento daquele quiprocó. O filme consegue expressar, com todo o peso e a beleza trágica inerentes ao sentimento, o estar melancólico, o ser melancólico, Em 'Melancolia', tudo parece 'normal' e de repente... o estranhamento de tudo, o sem sentido de tudo, o desânimo... a cena em que o noivo mostra o projeto de futuro com o lindo pomar de maçãs - e ela esquece no sofá. Quem conhece a melancolia, sabe muito bem o que é isso.

O filme é assim, mas não é deprimente. Ou ao menos não foi, pra mim. Impõe-se com força, acima de tudo, o aspecto transcendental e mágico das verdadeiras obras de arte. No roteiro, nas imagens, nas atuações do elenco, os destaques são muitos. Interessante, por exemplo, o fato daquela que parecia a mais 'maluca' e desequilibrada, Justine (Kirsten Durst), ser a que encara o iminente fim com muito mais dignidade e altivez. Sucumbe, por sua vez, a aparentemente 'certinha' Claire (Charlotte Gainsbourg, minha ídola!), cuja personalidade obsessivamente controladora fica evidente no começo da história, quando organiza a festa do malfadado casamento. Trabalho sensacional das duas atrizes, e ainda, as brilhantes participações especiais de John Hurt e da outra Charlotte (a maravilhosa Rampling), como os pais da noiva.

E pra terminar.. para um apaixonado por mulheres como eu, a cena da Kirsten Durst tomando banho de lua (ou talvez, banho de'melancolia'), toda nua, é espetacular.

domingo, 21 de agosto de 2011

A Árvore da Enganação



É uma grande enrolação, uma enorme babaquice, um descomunal pé no saco, o festejado 'Árvore da Vida', filme dirigido por Terrence Malick. Pra mim, é um absurdo quase inexplicável o fato dessa pretensiosíssima produção, vazia como um bolo de noiva de mostruário de confeitaria, ter ganho a Palma de Ouro em Cannes. E vi um espetáculo igualmente costrangedor do lado de cá da tela, ao perceber a maior parte do público, acompanhando aquele amontoado de chavões em estado de catatônica e bovina reverência.

Alternam-se imagens estilo Discovery Channel de explosões vulcânicas, de ondas do mar, do universo em movimento, e até uma tosca recriação da época dos dinossauros, com cenas do dia-a-dia de uma família americana entre os anos 40 e 60. As imagens grandiosas são lentas, arrastadas, e acompanhadas por música de igreja - formando um conjunto apelativo e interminável. E a tal família, liderada por Brad Pitt, de cabelo escovinha e óculos fundo de garrafa... bem, é mais uma daquelas famílias americanas caretas e religiosas por obrigação, onde uma ou várias tragédias parecem o tempo todo prestes a acontecer. Ok, mas já vimos isso muitas vezes no cinema americano - e na maioria delas, em abordagens e com resultados artísticos muito superiores aos de Malick.

Sucedem-se os chavões imagéticos e as 'mensagens' da profundidade de um pires. A participação de Sean Penn - que talvez seja, hoje, um dos maiores atores em atividade - é pequena e beira o ridículo, evidenciado nas poucas e pobres palavras que pronuncia e pela única e aparvalhada expressão que apresenta no decorrer de toda a sua ' atuação'. E dá-lhe clichê: sim, existe a cena do sujeito de terno e gravata caminhando sem rumo pelo deserto, aquela outra em que o cara atravessa um tipo de portal, imagens de tubarões contra a luz e de ensolarados campos de girassóis. Mas o 'melhor' está reservado para o final, na manjadíssima cena de uma multidão de pessoas vivas e mortas caminhando ao pôr do sol em uma praia. É... parece que a estética 'Chico Xavier' atravessou fronteiras e convenceu até os jurados do Festival de Cannes. Talvez o errado seja eu...