
Eu sempre quis ser guitarrista. Não apenas mais um; o que eu queria era ser um grande guitarrista, um puta músico! No final da adolescência investi nessa idéia, mas por questões financeiras e… confesso… por sentir que não tinha talento suficiente para tanto, abandonei o sonho. Mas ficou a admiração pelos heróis da guitarra. Tenho uma galeria deles, que começarei a listar aqui, talvez uma vez por semana. Importante: a ordem dos posts não obedecerá a critérios de valor ou qualidade.
Começo com Jeff Beck. Por que? Talvez por não ser tão valorizado como seus contemporâneos e também ingleses Eric Clapton e Jimmy Page; talvez porque andei ouvindo o cara por esses dias; ou talvez, simplesmente porque alguém me disse, uma vez, que eu era parecido com ele.
Não foi à toa que citei Clapton e Page aí em cima. Em 1965, por recomendação do futuro guitarrista do Led Zeppelin, Jeff Beck, então com 21 anos, entrou para o lendário Yardbirds em substituição a Clapton. Ficou apenas um ano e meio, tempo suficiente para o grupo emplacar alguns hits e fazer aquela aparição especial no clássico ‘Blow-up’, de Michelangelo Antonioni.
Depois disso, montou o Jeff Beck Group. A formação? Ron Wood no baixo, Mick Waller na batera, Nicky Hopkins no piano e Rod Stewart nos vocais. Lançaram dois discos até hoje antológicos: “Truth” (1968) e “Beck-Ola” (1969). O primeiro traz ‘Blues de Luxe’, que para mim permanece como uma das mais sensacionais gravações de blues que já ouvi na vida. Esses dois discos do Jeff Beck Group consolidaram o guitarrista como um inovador na utilização dos pedais, efeitos e recursos de distorção do instrumento.
Começava a época dos power-trios do rock. A imbatível formação guitarra-baixo-bateria que teve no Cream o seu exemplo mais bem acabado, reunindo excelência musical e peso. Beck uniu-se ao baixista Tim Bogert e ao baterista Carmine Appice, que já haviam formado a ‘cozinha’ do Vanilla Fudge e do Cactus, para fundar o Beck, Bogert & Appice. Lançaram um único (e ótimo) disco de estúdio, em 1973, e um outro não tão bom, o duplo ‘Live in Japan’, no ano seguinte.O primeiro trazia a primeira gravação de ‘Superstitious’, composta por Stevie Wonder especialmente para Jeff Beck. Depois do final do grupo, ainda saiu outro disco ao vivo, “At Last Rainbow”, que eu nunca ouvi.
Em meados dos anos 70, a novidade no rock era o ‘fusion’, também conhecido como ‘jazz-rock’. Antes de enveredar pelas demonstrações entediantes de virtuosismo e ser soterrado pela própria verborragia sonora, o gênero teve ótimos momentos com os primeiros discos de Jean Luc Ponty, da Mahavishnu Orchestra de John McLaughlin, do Weather Report de Pastorious, Shorter e Zawinul, do Return to Forever de Chick Corea. E foi de Jeff Beck, um dos melhores discos de jazz-rock: ‘Blow by Blow’, de 1975, totalmente instrumental, com um fenomenal trabalho de guitarra e arranjos de cordas e produção do talentosíssimo George Martin, o ‘quinto beatle’. Entre outras coisas, trazia mais uma inédita de Stevie Wonder, a soberba ‘Cause We’ve Ended As Lovers’.
Jeff Beck ainda insistiu no gênero, gravando ao lado de Jan Hammer(ex-Mahavishnu)os já menos inspirados ‘Wired’ (1976) e ‘There and Back’ (1980). O músico gravou alguns discos razoáveis nas décadas de 80 e 90, mas sua carreira foi prejudicada por uma doença auditiva – a exposição às altas frequências e aos muitíssimos decibéis o deixaram praticamente surdo; além disso, um constante zumbido quase o enlouqueceu. Mesmo assim, aparições e gravações esporádicas o mantiveram sob os holofotes. Destaque para a sua participação no disco “A Tribute to Muddy Waters”(1993) e para as suas apresentações em 2004 e 2007 no ‘Crossroads Guitar Festival’, como convidado de Eric Clapton.
Ocupando o 14º. lugar no ranking “100 Maiores Guitarristas de Todos os Tempos”, da Rolling Stone, aclamado no meio como ‘’o guitarrista dos guitarristas’, Jeff Beck retornou no início do ano às turnês internacionais (nunca veio ao Brasil…), mantém um blog constantemente atualizado (www.jeffbeck.com) e deve lançar CD de inéditas até o final do ano. Abaixo, o mestre detonando 'A day in the life', de Lennon & McCartney.