Quase pouco de quase tudo é assim: um pouco mais do que pouco, sobre um pouco menos do que tudo. Sem compromisso nenhum, principalmente comigo mesmo.O que der na veneta e pronto.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
'Patópolis', o livro
Na minha infância, gostava de ler histórias em quadrinhos, especialmente aquelas do mundo dourado e assexuado dos personagens Disney. Meus favoritos? Mickey, os Metralhas, João Bafo-de-Onça, Mancha Negra, Peninha, Maga Patalógika, SuperPateta.
Depois, meu gosto pelos gibis evoluiu para Hergé (Tintim), Goscinny/Uderzo (Asterix), Manara (Valentina) e Crumb (Freak Brothers), mais as tiras e charges do Millôr, do Jaguar e do Angeli. Ficaram os personagens Disney relacionados à uma infância ainda ingênua para se incomodar com os evidentes e graves problemas daquelas historietas: americanismos, machismos, estereótipos...
E agora, vejo com satisfação no ótimo blog -'cultura e crítica', linkado aí ao lado - do escritor e jornalista Marcelo Coelho, que seu novo livro (ainda em progresso) deve ter o nome de 'Patópolis'. Olha que delícia esse aperitivo que o Marcelo colocou em seu blog e que tomo a liberdade de reproduzir aqui:
"Mickey, seduzido pelos perfumes de um bolo cor-de-rosa de morango, bate à janela de Minnie. Tira da cabeça um ridículo chapéu palheta, imagem da frágil galanteria masculina. Oferece-se para limpar o jardim de sua amada, sem saber que logo perto se armava um terrível furacão, um tornado, melhor dizendo, que não deixará pedra sobre pedra no cuidado jardim da caprichosa rata. Eis a masculinidade que se aliena em pura força da natureza. Extinta a tempestade, Mickey tira o chapeuzinho em pedido de desculpas pelo estrago de que não foi responsável. Minnie não tem a generosidade da desculpa. Atira-lhe na cara o bolo que acabara de fazer. A cobertura rosa escorre pelo focinho do camundongo, que a lambe, e retira disso o prazer adocicado da derrota.
Vire-se esta página sentimental. E o que encontramos em seguida? O encarte, sim, o triunfal encarte do Instituto Universal Brasileiro.
Um homem pobre de bigode atesta, num retrato 3x 4, o quanto sua vida melhorou. Fez o curso de perfumista por correspondência. Outros cursos se oferecem: desenho industrial, corte e costura, contabilidade básica. Quantas carreiras não se abrem ao herdeiro masculino do clã Bonelli, atribulado na busca de um futuro digno na vida?
Entretanto, essa palavra –futuro—inexiste nas histórias em quadrinhos. Patinhas não morrerá. Donald está condenado à mesma roupa de marinheiro. Mickey será de Minnie o eterno noivo. A infância, bem ou mal, é eterna."
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15 comentários:
Como era verde o nosso vale.
apesar de detestar envelhecer e morrer, tenho maior aflição ao pensar numa infância eterna.
imagine então uma adolescência eterna?
só não deveria ser pior que o inferno.
peri: em meio ao vale verdejante, gosto dos toques 'eruditos' colocados pelo coelho, aqui e ali. por ex: 'masculinidade que se aliena em pura força da natureza' e 'o prazer adocicado da derrota'.
é anna, infância eterna ainda vai, mas adolescência eterna? vixi, tb tô fora!!
Agnaldo Silva(Plim-Plim!),diz achar Shakespeare um chato.
Entre Shakespeare e Agnaldo Silva,fico com Shakespeare.
E entre Walt Disney e Marcelo Coelho,fico com Walt Disney.
Numa só cajadada.
Günther.
hahaha gunther! mirou no coelho e acertou também a lebre!
A maldição da vida eterna atingiu também os Simpsons. 20 temporadas.
Lá por 1970, Ariel Dorfman e Armand Mattelart escreveram "Para Ler o Pato Donald", uma ácida interpretação da vida-à-Disney, que não poupava nem Huguinho, Zezinho e Luizinho. Li em 76. Depois de alguns anos de rejeição a Patópolis, descobri Carl Barks, o cara que inventou de fato o Pato Donald e o Tio Patinhas. É um arraso, o desenho é primoroso, as histórias, engraçadíssimas, os diálogos só se comparam às primorosas traduções dos profissionais contratados pelo velho Victor Civita. Até os anos 90, os estúdios Disney escondiam os artistas (da mesma forma que Barks criara os patos, Ub Iwerks criara anos antes os ratos, Mickey e Minnie; acho que o anonimato devia ser mantido por uma mordaça de dólares). Tudo isso para dizer que, como na passagem da infância para a adolescência, e desta para a vida adulta, uma coisa tão presente como as personagens de Disney passa, sucessivamente, por fascínio, rejeição e resgate. Portanto, o Patinhas que vejo hoje já não é mais parte da infância. Triste e aliviante ao mesmo tempo.
Triste é saber que o Patinhas está cada vez mais rico
é verdade, esquifo. eu gostava bastante dos simpsons, mas confesso que me enfastiei.
jayme: afinal de contas, o que o walt disney criou?
guga: triste é saber que ninguém pode viver de ilusão...
E agora essa moda de os personagens crescerem? A turma da Mônica agora tem versão teen em mangá (!!). Ontem vi um comercial de TV, vendendo a turma da Luluzinha e Bolinha também adolescentes (!!!!!). Confesso que achei estranho. Acho que o jeito mesmo é fazer como o Angeli fez com a Rebordosa: bum, acaba logo com eles e inventa outros (como os gêmeos Kowalski, geniais!!)! rsrs
é libf, tb não engulo essas versões 'teen' da monica e da luluzinha. e como concordo que deve ser duro para um criador ficar refém de sua criatura (já imaginou o schultz tendo que desenhar o snoopy por toda a vida?), voto também pelo assassinato, hehe...
Neil, o Disney criou a Disney. Não é pouco.
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