Quase pouco de quase tudo é assim: um pouco mais do que pouco, sobre um pouco menos do que tudo. Sem compromisso nenhum, principalmente comigo mesmo.O que der na veneta e pronto.
quinta-feira, 30 de julho de 2009
Guitar Heroes (1)
Eu sempre quis ser guitarrista. Não apenas mais um; o que eu queria era ser um grande guitarrista, um puta músico! No final da adolescência investi nessa idéia, mas por questões financeiras e… confesso… por sentir que não tinha talento suficiente para tanto, abandonei o sonho. Mas ficou a admiração pelos heróis da guitarra. Tenho uma galeria deles, que começarei a listar aqui, talvez uma vez por semana. Importante: a ordem dos posts não obedecerá a critérios de valor ou qualidade.
Começo com Jeff Beck. Por que? Talvez por não ser tão valorizado como seus contemporâneos e também ingleses Eric Clapton e Jimmy Page; talvez porque andei ouvindo o cara por esses dias; ou talvez, simplesmente porque alguém me disse, uma vez, que eu era parecido com ele.
Não foi à toa que citei Clapton e Page aí em cima. Em 1965, por recomendação do futuro guitarrista do Led Zeppelin, Jeff Beck, então com 21 anos, entrou para o lendário Yardbirds em substituição a Clapton. Ficou apenas um ano e meio, tempo suficiente para o grupo emplacar alguns hits e fazer aquela aparição especial no clássico ‘Blow-up’, de Michelangelo Antonioni.
Depois disso, montou o Jeff Beck Group. A formação? Ron Wood no baixo, Mick Waller na batera, Nicky Hopkins no piano e Rod Stewart nos vocais. Lançaram dois discos até hoje antológicos: “Truth” (1968) e “Beck-Ola” (1969). O primeiro traz ‘Blues de Luxe’, que para mim permanece como uma das mais sensacionais gravações de blues que já ouvi na vida. Esses dois discos do Jeff Beck Group consolidaram o guitarrista como um inovador na utilização dos pedais, efeitos e recursos de distorção do instrumento.
Começava a época dos power-trios do rock. A imbatível formação guitarra-baixo-bateria que teve no Cream o seu exemplo mais bem acabado, reunindo excelência musical e peso. Beck uniu-se ao baixista Tim Bogert e ao baterista Carmine Appice, que já haviam formado a ‘cozinha’ do Vanilla Fudge e do Cactus, para fundar o Beck, Bogert & Appice. Lançaram um único (e ótimo) disco de estúdio, em 1973, e um outro não tão bom, o duplo ‘Live in Japan’, no ano seguinte.O primeiro trazia a primeira gravação de ‘Superstitious’, composta por Stevie Wonder especialmente para Jeff Beck. Depois do final do grupo, ainda saiu outro disco ao vivo, “At Last Rainbow”, que eu nunca ouvi.
Em meados dos anos 70, a novidade no rock era o ‘fusion’, também conhecido como ‘jazz-rock’. Antes de enveredar pelas demonstrações entediantes de virtuosismo e ser soterrado pela própria verborragia sonora, o gênero teve ótimos momentos com os primeiros discos de Jean Luc Ponty, da Mahavishnu Orchestra de John McLaughlin, do Weather Report de Pastorious, Shorter e Zawinul, do Return to Forever de Chick Corea. E foi de Jeff Beck, um dos melhores discos de jazz-rock: ‘Blow by Blow’, de 1975, totalmente instrumental, com um fenomenal trabalho de guitarra e arranjos de cordas e produção do talentosíssimo George Martin, o ‘quinto beatle’. Entre outras coisas, trazia mais uma inédita de Stevie Wonder, a soberba ‘Cause We’ve Ended As Lovers’.
Jeff Beck ainda insistiu no gênero, gravando ao lado de Jan Hammer(ex-Mahavishnu)os já menos inspirados ‘Wired’ (1976) e ‘There and Back’ (1980). O músico gravou alguns discos razoáveis nas décadas de 80 e 90, mas sua carreira foi prejudicada por uma doença auditiva – a exposição às altas frequências e aos muitíssimos decibéis o deixaram praticamente surdo; além disso, um constante zumbido quase o enlouqueceu. Mesmo assim, aparições e gravações esporádicas o mantiveram sob os holofotes. Destaque para a sua participação no disco “A Tribute to Muddy Waters”(1993) e para as suas apresentações em 2004 e 2007 no ‘Crossroads Guitar Festival’, como convidado de Eric Clapton.
Ocupando o 14º. lugar no ranking “100 Maiores Guitarristas de Todos os Tempos”, da Rolling Stone, aclamado no meio como ‘’o guitarrista dos guitarristas’, Jeff Beck retornou no início do ano às turnês internacionais (nunca veio ao Brasil…), mantém um blog constantemente atualizado (www.jeffbeck.com) e deve lançar CD de inéditas até o final do ano. Abaixo, o mestre detonando 'A day in the life', de Lennon & McCartney.
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21 comentários:
Neil:
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Günther.
Também gostaria de ser guitarrista. Como sou modesto, e já que sonho é sonho, preferia ser o Eric Clapton, para mim o maior de todos. Vivo pelo u-tube vendo este cara tocar, nunca me canso.
Grande abraço
Ahhh, que beleza !
gunther: ?????????
lord: mestre clapton estará em breve por aqui. esse também está no meu olimpo, com toda a certeza!
outros virão, peri, certamente merecedores também de todas as nossas exclamações.
Neil,
Esse cara é demais mêrmo!
E esse papo de guitarrista sempre me lembra um filmeco no qual uns aborrecentes tinham decidido que a salvação de suas vidinhas estava em formar uma banda de rock. Quando eles estão numa loja escolhendo qual guitarra comprar, a câmera vai se afastando lentamente até mostrar o seguinte cartaz: "É proibido tocar Stairway to Heaven"
esse filme era o 'wayne's world', né marcia? hilário...
Apesar de tão comum, e até muito compreensível, não é estranho que, no geral, as pessoas morram ou padeçam (que pode ser uma espécie de morte) exatamente daquilo para que têm mais talento ou gosto?
Beijos.
Neil:
E mais...
Jeff Beck entrou em depressão e abandonou a guitarra por uns tempos após ouvir Jimmi Hendrix tocar em Londres.Auto crítica fudida,(desnecessária).
Wilson Batista X Noel Rosa.
Já não se faz Rock como antigamente.A busca e manutenção pela perfeição.
Abraços
Günther.
O Jeff Beck é realmente foda.
Gosto bastante da fase que ele teve com os Yardbirds. Com ele, a banda teve a melhor fase, principalmente com aquela pegada blues emendando um slide. Duka!
Acho que a fusão jazz/rock foi eficiente justamente por conta da maestria dos virtuoses. Aquele baterista da Mahavishnu, pelamor, era um monstro. Nunca vi um cara tocar igual!!!
Só não cheguei a conhecer a fase Beck no fusion. Mas, só de ouvir "Beck Bolero", já dá pra sentir o arrepio!
JH 4 EVER
Adorei o cartaz, Marcia. rs.
Adoro Jeff Beck. E achei demais a seção Guitar Heroes. Muito boa.
O Beck sempre vai me lembrar a minha chegada em Jeri, quando eu ouvia uma fita (era fita, hem) dele que um namorado tinha me dado. Sacudindo naquelas camionetes e ouvindo JB. Eita juventude...
Bjs
sibila: deve ter a ver com o pecado original, com o fruto proibido...
gunther: não só o jeff beck. clapton, page, townshend... todos entraram em parafuso ao ouvir hendrix.
tiago: tenta baixar o 'blow by blow' - vale a pena. e o baterista extraordinártio da mahavishnu era o billy cobham.
hehe patty, nem vou falar do que me traz à mente a audição de jeff beck...
Günter,
Hendrix aprendeu a tocar com os inglêses. Nada tinha feito de importante até então. Só depois de ver Eric Clapton, Jeff Back e Jimmy Page (Yardbirds Brother's) tocando, é que entendeu o mecanismo de uma guitarra.
Abração
lord: já no final da vida, hendrix começava a enveredar por um caminho que poderia se chamar de jazz-rock (no bom sentido do termo). o disco 'loose ends', lançado após a sua morte, dá uma clara indicação disso. o cara ainda tinha muito a dizer. e provavelmente, faria música ainda muito melhor do que havia feito até então.
Ainda parado não assunto, não o esgotamos, chamo a atenção para o fato do Jeff Back ser dos raros quitarristas que tocam sem palheta. Outra curiosidade é que ele é um excelente mecânico de automóveis e gosta de montar carros antigos. Você sabia?
Quanto ao Jimmy Hendrix, acho ele fenomenal, mas o contato com os guitarristas inglêses foi decisivo em sua carreira.
Abração
esse assunto não se esgotará tão cedo, caro lord. por isso, 'guitar heroes' será uma série por aqui - idealmente, um post por semana. e vou procurar fugir um pouco das obviedades e unanimidades. é claro que hendrix e clapton não podem ficar de fora, mas vou primeiro nos não tão badalados. o que vc acha?
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