Quase pouco de quase tudo é assim: um pouco mais do que pouco, sobre um pouco menos do que tudo. Sem compromisso nenhum, principalmente comigo mesmo.O que der na veneta e pronto.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Guitar Heroes (4)
O cara é o responsável por ao menos três discos que estão na minha lista de 'rock favorites' de qualquer tempo: 'Who's Next' e 'Quadrophenia', com o grande The Who; e 'Who Came First', como artista-solo. Mas além disso, e para o que aqui realmente interessa, Pete Townshend é um guitarrista que criou um estilo original e é sensacional (melhor dizer... foi) artista de palco. Dizem que o Who foi a melhor rock band 'ao vivo' de todos os tempos. Pode ter sido, não vi pessoalmente. Mas tive a sorte de assistir a um show fantástico de Townshend, em 1999 na House of Blues de Chicago. Naquela noite, ele tocou com uma banda local, fiel à melhor tradição do blues eletrico que se faz há muito tempo naquela cidade. E foi nessa noite que Pete Townshend passou a ocupar um lugar de gala na minha galeria de guitar heroes...
Nascido em um subúrbio de Londres em 1945, na Europa traumatizada e devastada pela 2a.Guerra, Pete vem de uma família de músicos: seu pai era saxofonista de uma big band e a mãe, cantora. Com 11 anos, assistiu algumas dezenas de vezes o filme 'Rock Around the Clock'; com 12, ganhou seu primeiro violão e começou a imitar os grandes do blues e do rock americano que eram destaques na programação da rádio BBC: John Lee Hooker, Bo Diddley, B.B.King, Chuck Berry... Com 16 anos, com o amigo de escola John Entwistle, formou uma dupla de dixieland (?) - ele no banjo, John no sax. Logo depois, com a entrada de Roger Daltrey como cantor, já eram um trio de rock n'roll. Escolheram o nome The Detours, mas descobriram que já havia uma banda homônima; foi aí que surgiu... The Who! Em 64, a formação já incluía também a 'fera desenjaulada' Keith Moon, na bateria.
Por um breve período, por influência de um empresário metido a esperto, trocaram de nome para The High Numbers e lançaram um single. Nada aconteceu. Mandaram o mané passear e voltaram para The Who. Em sua primeira e melhor fase, o Who gravou uma sequência de álbuns essenciais, desde 'My Generation' (de 65) até 'Who Are You' (de 78, quando Moon morreu), passando por 'The Who Sell Out' (67), 'Tommy' (69), 'Live at Leeds' (70) e os já citados 'Who's Next' (71) e 'Quadrophenia' (73). A exemplo do famoso 'Tommy' - que ganhou fama extra com o pirotécnico filme de Ken Russell -, 'Quadrophenia' é também uma ópera-rock, só que muito melhor do que a primeira. E também virou filme, com direção de Franc Roddam e lançado em 79. Aliás, um ótimo filme que é vítima de injusto ostracismo.
O Who ficou famoso também pela esbórnia: são célebres os quebra-quebras em hotéis e também no palco. Nessa fase, era raro o show em que Pete não destruía a guitarra e Keith, a bateria. Bebedeiras, drogas, groupies a granel... todos os clichês de uma rock band em turnê naqueles tempos. Mas havia a música. E que música! E havia sobretudo o a guitarra de Pete Townshend, seu talento como compositor e como desbravador de timbres. Seu uso do feedback da guitarra como uma técnica sonora; o estilo que combina elementos de guitarra ritmica com solo. Isso tudo é Townshend.
Durante essa primeira fase do Who (o grupo voltaria depois, várias vezes), Townshend passou a se interessar pelas teorias do guru indiano Meher Baba, que morreu em 1969. Com o fim do grupo, ele mergulhou fundo nos 'ensinamentos do mestre'. Espiritualmente não sei, mas musicalmente foi uma boa: é dessa fase 'Who Came First', que citei lá em cima como 'disco de rock', mas que não se trata bem disso: o som é basicamente acústico e romântico, e há esse tom quase religioso; mas a atitude, o espírito é puro rock'n roll. Ótimo! Outros destaques na discografia de Pete Townshend: 'Rough Mix' (de 77, com Ronnie Lane), 'Empty Glass' (80), 'All the Best Cowboys Have Chinese Eyes' (82) e 'White City: A Novel' (85). De 1982 a 85, Pete travou difícil batalha pra se livrar da cocaína e da heroína. Aparentemente, venceu.
Desde então, Townshend manteve-se na ativa: tem lançado livros e discos, escreve artigos para jornais e revistas, faz shows-solo ou com o Who (sim, ainda), mas enfrenta surdez progressiva, causada por longa exposição a volumes altíssimos. Em 1989, fundou a organização de apoio, sem fins lucrativos, H.E.A.R. (Hearing Education and Awareness for Rockers).
Tem algumas coisas legais de Townshend e do Who no YouTube. Esse vídeo abaixo, do final dos anos 70, traz uma arrasadora versão da banda para 'Won't Get Folled Again', faixa cássica do 'Who's Next'. Além da guitarra excepcional de Pete Townshend, o 'grito primal' de Daltrey já quase ao final da música (após a farra dos raios lasers...) permanece pra mim como um dos momentos mais expressivos do rock, em todos os tempos. Enjoy!
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15 comentários:
Neil,
Nem tem o que falar do Townshend. Pra mim, o The Who, ao lado dos Rolling Stones, são as bandas mais relevantes do verdadeiro conceito de rock´n roll.
E o Who é puro Townshend. Isso porque o cara é quem compôs pelo menos 90% das letras do grupo e foi a figura devastadora na atitude incendiária do rock.
"Who's Next" na minha opinião é o melhor álbum de rock já lançado em todos os tempos. É porque ele traz uma certa densidade nos vocais de Daltrey e uma maturidade nas composições. Sem falar que Moon se vira muito bem seja em música lenta ou rápida e o Entwistle é um grande baixista.
Esse ano a ópera Tommy completou 40 anos. Escrevi sobre ela aqui
O "Quadrophenia" também é muito bom, mas ainda não o escutei tanto como o Who´s Next ou o Who Sell Out que tbm é fabuloso.
Ah, vale lembrar que o grande precursor da cena punk é a música "My Generation", pilar essencial para que depois MC5, Iggy Pop & Stooges e o Ramones posteriormente clamassem a geração vazia do punk rock, jorrando niilismo pra tudo quanto é lado. Tudo graças a essa frase: "I hope I die before I get old"
Ah, Neil: esse é o 4º guitarrista que vc posta, não o 3º.
Abraço!
grande comentário, tiago! é verdade: precursor do movimento punk, com certeza. aliás, o filme 'quadrophenia' deixa isso bem claro. e é mesmo o quarto guitar hero que posto aqui. já mudei. valeuaê!!
Neil,
Reconheço os méritos e tal, mas o cara não está assim no meu panteão.
But again, WHO am I to say anything, né?
Só sei dizer que ao ler a menção ao All the Best Cowboys Have Chinese Eyes' fiquei cozói cheidágua já que esse disco foi a trilha sonora de uma época muita intensa (e bacana) na minha vida. QPQT também é nostalgia...
My guitar hero. Nem preciso dizer mais.
E adoro essa sua sessão, já disse, não?
Bjs
meu filho de 17 sempre diz que nossa geração teve/tem músicos de rock imbatíveis.
teria algum guitarrista, bem mais novinho que possa dizer que é fera?
aliviaria sua nostalgia prematura.
marcia: é claro que o seu comentario é valioso. e esse panteão de guitar heroes obedece a critérios absolutamente pessoais. não privilegia quem tenha a 'melhor técnica', 'o mais influente', ou seiláoquemais. é pura emoção, feeling pessoal.
seu filho tem razão, anna. mas vc propôs um desafio interessante - vou atrás de um guitarrista jovem pra integrar a galeria de heróis!
Que tal o Jack White?
jack white, patty? is he really good or mostly a 'poser'?
Eu gosto bastante dele. E aprendeu rápido o bom de aprender tocando com outras bandas. E mandou bem no show dos RS, que virou o DVD by Scorcese. Acho um dos melhores da nova geração.
Agora, é difícil falar é bom e tal como a gente fala dos mais velhinhos, que a gente acompanhou tantos anos. Esse tem menos tempo de estrada. Mas tem escolhido bem seus caminhos. Até o Racounter, deixando a doidinha da irmã um pouco de lado.
Mas foi só um palpite, tá?
Bjs
Velhinhos ainda trepidantes.
vou procurar ouvir e ver jack white, patty. prometo novidades para breve.
pedras rolantes não criam musgo, peri.
Os cowboys têm olhos chineses porque não têm óculos escuros pra encarar o sol do deserto.
sensacional, pecus! há tempos tento entender essa frase. finalmente, vi a luz!
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