segunda-feira, 5 de abril de 2010

Luzes, câmera... e inação


Luiz Felipe Pondé é (mais um) colunista da Folha que adora causar polêmica. Semana passada, mexeu em um vespeiro ao comentar que o cinema brasileiro é incapaz de fazer filmes como o argentino ‘O Segredo dos Seus Olhos’, que recentemente ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Pondé argumentou que o cinema nacional limita-se à favela e à violencia, sendo ainda refém da ‘estética da fome’, de uma visão ‘idealizada’ da pobreza que foi consagrada pelo cinema novo e especialmente, por Gláuber Rocha. No decorrer de toda a semana, choveram cartas na redação do jornal, contra e a favor das posições defendidas pelo colunista.

Embora eu mesmo já tenha incluído o Gláuber em uma das ‘Galerias dos Chatos’ que postei aqui no blog, estou longe de concordar com o Pondé. Em primeiro lugar, não acho que o Gláuber tenha inaugurado uma ‘estética’ e nem mesmo que tenha o poder de influenciar o cinema brasileiro até hoje. Por outro lado, nossa produção (nossa não, ‘deles’, já que não sou cineasta) inclui também a recente ‘estética da TV’ – perpetrada pela Globo Filmes em sucessos como ’Se Eu Fosse Você’ (1 e 2), ‘Os Normais’, ‘A Grande Família’ e o recente ‘Chico Xavier’, entre tantos outros. Ontem, assisti na TV a mais um exemplar dessa categoría, o babaquara e rastaquera ‘Mulher Invisível’ - que entre uma bobagem e outra, desperdiça o enorme talento de Selton Mello. O cinema brasileiro mais ‘independente’ (se é que podemos assim chama-lo) também é capaz de produzir boas surpresas, como ‘O Cheiro do Ralo’ e os documentários do Eduardo Coutinho, por exemplo. E mesmo a Globo Filmes, de vez em quando parece distrair-se e deixar passar uma pérola pouco vista como ‘Tempos de Paz’, dirigido pelo mesmo Daniel Filho do ‘Chico Xavier’ – que não vi e nem pretendo. Em suma: Pondé força a mão, exagera certas coisas e omite outras. Tudo para criar uma polêmica. Isso é jornalismo?

16 comentários:

anna disse...

não sei se é jornalismo, mas eu gosto de ouvir/ler gente que pensa diferente.
me faz pensar de novo, reavaliar e olhar por outro angulo.

Anônimo disse...

eu acredito que o cinema argentino - longa metragem e comercial - está um passo à frente do brasileiro. durante a profunda crise econômica do final do século passado em buenos aires, os grandes talentos da criação argentina se viram sem trabalho e foram obrigados a migrar para a área de produção.
isso gerou o salto de qualidade do - muito bom - cinema argentino.
e olha que me dói nos ossos elogiar argentino, hahaha!
abraço,
parangolé

peri s.c. disse...

Nuestros hermanos já tem 2 Oscar e 5 Nobel.
Precisamos acabar urgentemente com nossa malemolência inzoneira nas artes e ciências. E no jornalismo, por que não.

Nossos cineastas podem não fazer ótimos filmes, mas tem um discurso ..., nâo ?

Márcia W. disse...

Neil,
não tenho nenhum bode com Glauber, acho que ele conseguia gerar discussões e ninguém precisa gostar dos filmes dele em bloco... E tinha o clima da dita-branda-dura que tornava a linguagem do cinema brasileiro não-pornochanchada super esotérico. Concordo 900 mil % que esse translado da linguagem novelística global para o cinema é uma lástima.
Sobre a produção dos nossos vizinhos, parece que os peruanos também estão se mexendo. Vi um filme colombiano maravishosso chamado Los viajes del viento (comentei lá na bloga) e fiquei curiosa com o que mais eles podem estar fazendo por lá.

libf disse...

O Pondé é aprendiz de Diogo Mainardi. Um dia ele chega lá! Argh!

Tiago Ferreira da Silva disse...

Não sei se é jornalismo mas é uma corrente sustentada pela Folha há muito e muito tempo.

Pedro Alexandre Sanches, que já foi repórter de cultura de lá, hoje em dia afirma que a Folha vive caçando pelo em ovo para criar uma polêmica, com óbvios fins comerciais.

É uma pena que a credibilidade de muitos que poderiam ser ótimos profissionais fica amarrada ao editorialismo elitista de um jornalão.

Abs!

Neil Son disse...

ler gente que pensa diferente é sempre bom anna, mas ocultar ou distorcer informação é desonestidade. ou incompetencia.

Neil Son disse...

quer dizer que um estagio na produção produz um bom cienasta, paranga?

Neil Son disse...

no discurso eles são bem afiados, peri. inclusive pra atacar uns aos outros (nas internas) e pra chorar o fim da embrafilme...

Neil Son disse...

marcia, aquele filme da 'teta' também não é peruano?

Neil Son disse...

aiaiai libf, será??

Neil Son disse...

tiago: entendo que o jornalismo diario precise de polemicas para se auto e retro alimentar, alem de ganhar diferenciais em relação aos concorrentes. mas é possivel polemizar sem ser desonesto e nem demonstrar desinformação ou incompetência.

hélio disse...

O cinema brasileiro foi muito tempo prejudicado pela embrafilmes que só financiava filmes da patota "bundapraiaechopp", um massacre. Estamos começando o novo cinema agora, com cineastas buscando recursos pelas próprias pernas, sem financiamento com dinheiro público e portanto sem compromisso nenhum com as bilheterias, e sem Glauber para seguir como "guru". Teremos em breve um cinema forte voltado a quem realmente interessa, o público pagante.

jayme disse...

Não, não é jornalismo, é opinião. Infelizmente, uma opiniãozinha de quinta categoria. Pondé é uma besta quadrada, um cara que tiraria 8 na redação da Fuvest e, no entanto, é um sucesso de público (a Folha sempre pesquisou os índices de leitura de todas as suas páginas, não virou o maior jornal do Brasil à toa). Esse mesmo público que deu 140 milhões de votos no Big Brother lê e gosta de Pondé e de excrescências outras como o tal JoãoPereira Coutinho. C'est tout la même chose.
Vc tem razão, 'Tempos de Paz' é uma pérola. O 'Chico Xavier' eu penso em ver por causa do Nelson Xavier, para mim, o maior ator do cinema brasileiro. Um filme que faltou citar: o pernambucano Cinema, Aspirinas e Urubus.

Lord Broken Pottery disse...

Penso que esse tipo de comparação é boboca, diminui as possibilidades de análise. Coisa de quem não tem o que dizer. O fato é que o cinema argentino é excelente, e que temos também algumas coisas muito boas.
Grande abraço

Vivien Morgato : disse...

Toda polêmica interessante é gostosa de ler, mas polêmica rala, parida pra ser comentada...é chata.

Me perdoem os fãs de Glauber, mas concordo com vc e o coloco na mesma galeria.
beijos.