terça-feira, 12 de maio de 2009

Budapeste chega às telas. E faz bonito!


Alguns amigos torceram o nariz; outros, não conseguiram chegar nem até a página 20. Mas eu gostei, gostei bastante de 'Budapeste', o penúltimo livro de Chico Buarque. Denso e às vezes difícil, mas extremamente bem escrito e com uma trama original, envolvente. Um intrincado jogo de duplos, de espelhos; e uma verdadeira farra linguística, promovida por um mestre das palavras.

Por isso, como sempre acontece quando se vai ver uma adaptação para o cinema de qualquer obra literária (especialmente aquelas que a gente leu e gostou), foi com um pé atrás que encarei, ontem, a pré-estréia do filme dirigido por Walter Carvalho. Antes, ele havia apenas co-dirigido o bom 'Cazuza - O Tempo Não Pára' e alguns documentários que não vi. Sua carreira como diretor de fotografia, entretanto, recomenda: 'Central do Brasil', 'Lavoura Arcaica', 'Terra Estrangeira', 'O Céu de Suely', 'Amarelo Manga'... Bem, 'Budapeste' é uma ótima surpresa - e não só pela excelente fotografia, cuja imagem acima, do Lênin 'esquartejado' navegando pelo Rio Danúbio, é apenas um exemplo. A difícil tarefa de levar às telas a história do 'ghost-writer' José Costa foi cumprida com louvor - e acho que o roteiro, que poderia resultar em algo excessivamente enigmático ou 'cabeção', funciona mesmo para quem não leu o livro; ou para os que leram e não gostaram.

Além das locações na belíssima capital da Hungria, o filme tem em Leonardo Medeiros o ator certo para viver o personagem confuso e atormentado, criado pelo Chico. Isso porque Leonardo é quase um 'não-ator'; ou melhor, é daqueles atores que parecem interpretar o personagem no sentido mais amplo do termo. Ou seja: existe a interpretação, mas parece co-existir, invisível, a 'interpretação sobre a interpretação'. O ar blasé, a expressão quase sempre contida (e por isso, sempre prestes a explodir) de Leonardo, combina à perfeição com o intenso conflito interno vivido por José Costa.


E há Gabriella Hámori, atriz húngara que ilumina a tela desde a sua primeira aparição. Sua beleza européia e a atuação sutil como uma mulher naturalmente decidida e livre, faz ótimo contraponto com a 'futilidade transbordante' e a morena carioquice da personagem de Giovanna Antonelli. Como 'cerejas do bolo', um alquebrado Paulo José faz espetacular participação especial; e quase ao final, o próprio Chico Buarque pede um autógrafo ao 'escritor' José Costa. E mais: cenas de sexo? Não há quem as faça tão bem como o cinema brasileiro...

12 comentários:

anna disse...

eu recomendo!

quanto ao livro li 2 vezes até a pg 70.
depois de ver o filme, acho que agora engato uma primeira e chego até o final.

vc tem razão: as cenas de sexo são lindas.

Márcia W. disse...

Neil,
eu adorei o livro e agora fiquei impressionada com a sua recomendação. Quando o filme cruzar a poça, irei correndo assistir.

Anônimo disse...

Tb gostei muito do livro e tb gosto muito do Leo Medeiros. Tô louca pra ver o filme e achei legal o jeito que vc fala do "ator não ator", e se houvesse uma palavra pra traduzir um trabalho assim seria: Verdade.That's All. Pat G.

peri s.c. disse...

Nada como um empurrãozinho. O livro está ali na fila, meio empoeirado esperando vez. Vamos lá.
Primeiro o livro, depois o filme,depois o disco ( tem disco ? ou melhor CD ? )

Neil Son disse...

tem que passar a linha da arrebentação, anna.

Neil Son disse...

marcia: acho que esse filme vai fazer carreira aí pelos festivais europeus.

Neil Son disse...

pat: legal vc falar isso do 'não-ator'. me senti meio inseguro ao escrever isso, já que não sou da área. mas pelo que vc comentou, acertei!

Sibila disse...

Li Budapeste num só fôlego, fiquei totalmente tomada pelo ritmo do livro, com aquele leva e traz doido de identidades/imagens. "Jogo de duplos, de espelhos", tento repetir o que escreveu só pra dizer que é isso mesmo.
Fiquei com água na boca. Vou loguinho ver o filme.
Beijos
PS: os franceses além de serem umbigóides, bufam demais.

Neil Son disse...

e o 'leite derramado', sibila? já leu?

Sibila disse...

Ainda não, Neil. Vi por aí que muitos críticos de literatura (quem mesmo?) acham que o Chico é o grande cara do romance nacional atualmente. O que posso dizer é que, pra mim, já sendo escritor de fino trato desde a estréia, ele ainda conseguiu aperfeiçoar-se de Estorvo à Budapeste. Vc que manja, não acha q as canções dele já eram/são pequenas peças tendentes ao romance? E já havia escrito pro teatro.
O Chico... acha que eu marcaria de não ler só pra ficar depois chorando o leite não derramado? Ô sô.
Beijos

Neil Son disse...

é verdade, sibila. reconheço em chico buarque o maior letrista da história da música brasileira. mas concordo com o próprio (e com o caetano, e com outros..), qdo ele diz ser contrário a classificar letras de música como literatura. e é aí que reside uma das minhas principais implicâncias com os 'críticos' de música que insistem em analisar letras separadamente da melodia. uma foi feita pra outra - são uma coisa só e é como tal que devem ser consideradas.

googala disse...

chiko sucks