sexta-feira, 19 de junho de 2009

O canudo



E agora, essa polêmica chata da obrigatoriedade ou nâo do diploma de jornalismo...

Pra mim é difícil ter que ficar 'do mesmo lado' dos editorialistas da Folha, mas tendo a concordar com a não-obrigatoriedade. O diploma não atesta qualidade profissional, ainda mais com as faculdades que temos por aí, onde pululam e de onde jorram analfabetos 'funcionais' e/ou ignorantes completos. Fiz jornalismo na PUC, não aprendi porra nenhuma - aprendi mesmo foi na lida, na vida. Faculdade não vale de nada se o cara não estiver afim, se não estudar por conta própria, se não fizer 'a sua própria agenda'. Ao mesmo tempo, não acho que qualquer um seja apto a escrever em meio de comunicação, embora até isso já seja muito discutível na era da Internet. Como bem me ensinou hoje o meu filho, acredito que os cursos de jornalismo deveriam ser uma especialização de Humanas; aí sim, o diploma poderia ser obrigatório. Mas do jeito que é, melhor que não seja. E tem mais: os defensores do diploma me trazem à lembrança a exaltação do trabalho, do esforço, do estudo, do sacrifício, que é uma das piores heranças que carregamos da maldita formação católica-burguesa-moralista-ibérica. O trabalho enobrece o homem? Coisa nenhuma! É o ócio que enobrece o homem! O prazer liberta; o sacrifício do estudo é uma merda! Quer estudar? Que seja por prazer e pelo prazer. Quer trabalhar? Que seja por prazer e pelo prazer! O resto é discurso de classe dominante, é estratégia escravagista.

E pra completar: meu pai, que foi o melhor jornalista que conheci e com quem convivi, mal concluiu o curso colegial.

16 comentários:

anna disse...

apoiadérrimo!

peri s.c. disse...

Como escreveu o Tutty Vasques, já tem um monte de garotos querendo ser jornalista , só prá não ter que estudar, ah, ah

Anônimo disse...

Neil, mamãe leu seu post e chiou pq disse que papai, Carlos Gaspar, concluiu sim o ginasial, tanto que eles se conheceram no colegial, inclusive ele já trabalhava no Cruzeiro, aí os dois, no ultimo ano, abandonaram a escola pra se casarem. Ele caiu de vez na vida jornalistica,ela nas prendas do lar e foram felizes para sempre! Pat G.

Ana Clara disse...

Concordo plenamente com tudo!

Toda hora agora tem alguém pra discutir isso comigo. E todo mundo é contra a decisão da não-obrigatoriedade. Os jornalistas recém-formados estão revoltados, acham que vão ficar desempregados. É fato que a concorrência vai aumentar, mas, por outro lado, eu digo a todos: se era emprego garantido que procurávamos ao entrar na faculdade, deveriamos ter feito alguma coisa ligada a computação, área nova e com empregabilidade altíssima. Tecnologia da Informação e coisas do gênero. Jornalismo nunca.

Fiz jornalismo por não saber o que fazer. Jornalismo não discute um assunto apenas, é um misto de várias áreas de humanas, o que era perfeito para a minha indecisão.

Li bastante, mas não aprendi absolutamente nada de jornalismo propriamente dito na PUC. Só aprendi um pouco nas minhas até então parcas experiências profissionais.

Enfim: sou super a favor da não-obrigatoriedade, ainda que me doa ter de concordar com editoriais de jornais tão conservadores. Se bem que por razões diferentes.

Não é porque o cara é formado em jornalismo que saiba se comunicar. Conheço muita gente fora da área da comunicação que escreve muito melhor que jornalistas formados. Trabalhei com uma menina formada pela UNIP que, ao transcrever uma entrevista, escreveu: "TANBÊM uma SALMA de palmas".

Outro argumento pró não-obrigatoriedade é que a muitos dos melhores jornalistas que esse país já teve não era formada. Tipo o vovô.

Ana Clara disse...

Ah, e que bonitinha a história do vovô e da vovó narrada pela Pat G.!

=)

Neil Son disse...

valeuaê, anna!

Neil Son disse...

hehe, bem sacada essa, peri!

Neil Son disse...

opa, obrigado pat. já corrigi no texto!

Neil Son disse...

ana clara: e os caras de outras áreas que escrevem melhor do que muitos jornalistas? drausio varella, contardo calligaris, tostão... a lista é interminável.

Tiago Ferreira da Silva disse...

Estou no último ano de jornalismo e sou obrigado a dizer que sou a favor da não-obrigatoriedade do diploma.

Primeiro: porque se o cara é bom não deve ficar inseguro com uma medida dessas.

Segundo: concordo em gênero, número e grau com o comentário de Ana Clara. Tem muito pelego formado que não sabe nem ao menos escrever.

Terceiro: com a não-obrigatoriedade, o jornalista deverá ficar mais atento e garantir o seu, pois está mais suscetível a ser substituído. Com isso, ele se obrigará a tirar a bunda da cadeira e poderá trazer material de melhor qualidade. Ou seja: ganha o jornalismo, ganha o público, que pode ter acesso à informação melhor trabalhada.

Só perde aquele que tem o diploma por ter: só a faculdade não dá base alguma. A cultura geral do profissional pesará!!!

Neil Son disse...

é isso aí, tiago. e acho graça qdo os arautos da obrigatoriedade usam o argumento de que 'o nível da imprensa vai cair', 'os não-jornalistas vão abaixar o nível das publicações'. como se isso, com os 'jornalistas diplomados' já não estivesse acontecendo. mesmo na chamada 'grande imprensa', o nível jornalístico é baixíssimo, constrangedor. os erros pululam e os exemplos de péssimo jornalismo acontecem todos os dias.

googala.opsblog.org disse...

Nem sabia que tinha faculdade de jornalismo.
O Peri não tem diploma de arquiteto, mas engana bem. ahahah

Gabriel Rocha Gaspar disse...

Bom, eu sou o filho que "ensinou"! Hahahahahaha! Valeu pelo crédito, mas ainda não estou com essa bola toda!

E vou fazer o advogado do diabo. A não-obrigatoriedade do diploma tem um aspecto perverso que colabora - e muito - com a estratégia escravagista que você citou, Neil Father. Ela faz com que deixemos de existir como classe. Não que a gente exista como classe hoje, mas o enfraquecimento dessa posição é complicado. Se numa redação, fulano é jornalista, ciclano é historiador, beltrano, cientista político, qual nossa causa comum? Qual nosso poder de reivindicação?

Hoje, nesse nosso mercado, estagiário trabalha como profissional, profissional faz as vias de super-homem e mata duzentos coelhos por cajadada. O patrão tá feliz da vida e a gente, como cachorrinho, abanando o rabo. O que acontece com a gente, agora que somos um grupo disperso de profissionais sem qualquer agenda comum? Não sei. Mas, se eu fosse chefe, estaria com sorrindo de orelha a orelha.

Neil Son disse...

guga e gabriel: fiz esse post, mas agora confesso que me deu uma preguiça danada de continuar discutindo isso. puta assunto chato!!

googala.opsblog.org disse...

Achei que no Jornalismo se ganhasse só monoploma...

Anônimo disse...

"É o ócio que enobrece o homem!" Amei, Neil. Não vou falar mais pq vc já enjoou da discussão, mas seu post ficou perfeito.
Saudades de vc e da musa de todas as estações.
Beijos,
Carol