Quase pouco de quase tudo é assim: um pouco mais do que pouco, sobre um pouco menos do que tudo. Sem compromisso nenhum, principalmente comigo mesmo.O que der na veneta e pronto.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Para sempre, Paulo Moura
Paulo Moura: grande saxofonista, clarinetista, arranjador e compositor brasileiro. Por mais de 60 anos, trafegou com igual maestria pelo erudito e pelo popular - foi solista da Orquestra Sinfônica Brasileira (com apenas 19 anos), foi integrante do seminal Bossa Rio de Sérgio Mendes, tocou no mítico concerto que lançou a Bossa Nova no Carnegie Hall de Nova York, gravou na década de setenta o espetacular 'Confusão Urbana, Suburbana e Rural', dividiu palcos e estúdios com Raphael Rabello, Clara Sverner, Yamandu Costa e tantos outros. Era respeitadíssimo tanto nas gafieiras da Lapa carioca quanto nos círculos mais exigentes do jazz internacional.
Há cerca de dez anos, tive a oportunidade de escrever o texto do livreto de um belíssimo CD de Paulo, gravado na Europa e pouquíssimo conhecido no Brasil. E uns dois anos atrás, colaborei com um amigo na produção de um show de Paulo Moura com Armandinho Macedo (do Trio Elétrico baiano) no Parque da Aclimação, em São Paulo. Designado para busca-lo no hotel, encontrei o mestre tocando lindas melodias na clarineta, sozinho em seu quarto. 'Vestia' apenas um chapéu de palha. Discursou lindamente, por longos minutos, sobre a obra e a importância de Pixinguinha. Paulo Moura, o excepcional músico, humilde como só os grandes sabem ser; e generoso ao extremo, como só aqueles de alma elevada conseguem. Foi a última vez que o vi.
Na Folha Ilustrada de hoje, capa e página 3 inteiras com a novata cantora pop/soul americana Janelle Monáe. Para Paulo Moura? Matéria de meia página no interior do caderno. Apesar do bem escrito texto do sempre bom Carlos Calado, a 'reportagem' da Folha não se preocupou em ouvir ninguém do meio musical/cultural a respeito da morte do grande artista. E tampouco fez uma cronologia de seus discos ou qualquer avaliação de sua trajetória. É por coisas como essa que jamais voltarei a trabalhar na chamada 'grande imprensa'...
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5 comentários:
Neil
O Estadão, apesar de chamada na capa, dedicou também apenas meia-página interna no Caderno 2 .
Muito pouco também .
Importante hoje é o goleiro Bruno.
A última vez que o vi tocando foi no Rio Cenarium. Dá vontade de voltar a fita.
Não dá nem para dizer que foi orientação dos jornais. Mas essa é típica daqueles que o fazem. Ele não estava toda hora no circuito "descolado" que a maior parte dos críticos convive. Uma pena, para eles. Perderam.
Ótimo post.
Bjs
Sera' que por Paulo ter sido mais "carioca", os jornais paulistas nao deram tanto destaque? Ou e' por ignorancia de redacoes cada vez mais jovens?
Não acho que os blogs tenham esgotado sua capacidade. Nosso tesão é que diminuiu. Blog é crônica, é falar do que vemos no mundo. Só que as coisas andam tão sem sentido, os valores deturpados de tal maneira, tudo tão chato, que nem dá vontade de registrar. É mais ou menos como falar de paisagem em terra de cego.
Grande abraço
Neil,
Conheço pouco sobre a obra de Paulo Moura, mas concordo com você que a imprensa pouco fez caso do assunto.
Até o New York Times noticiou o assunto, o que só confirma a importância do músico.
Apesar do descaso da imprensa em retratar sua obra, farei o possível para conhecer um pouco mais deste grande artista.
Abs,
Tiago
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