
E lá se foi mais um Carnaval... a cada um que passa, mais crescem em mim as dúvidas: para onde vai, afinal de contas, essa festa que nasceu do povo, foi a princípio reprimida e depois 'assumida' pelo sistemão? É possível equilibrar a manifestação sincera de toda aquela gente que passa o ano todo preparando o desfile de sua escola, com a necessidade de se fazer um espetáculo que, na verdade, acaba se resumindo a um programa de TV? E que programinha de TV mais chato, hein? Horas e horas daquele lenga-lenga, com uma impressionante galeria de chavões e idiotices repetidas 'ad nauseum' pelos locutores e comentaristas... E a ganância dos patrocinadores? E a estupidez galopante dos camarotes VIP?
Bem, no Rio, sei que aconteceu nos últimos anos um renascimento dos blocos de rua, da brincadeira livre e democrática, o que é, pra quem gosta, uma ótima notícia; mas em Salvador, a própria prefeitura já reconheceu que a festa precisa ter um 'novo formato'. Afinal, desde que inventaram o circuito 'chique' da orla (onde pu(lu)lam Ivetes e Danielas), parece que o 'verdadeiro carnaval baiano', dos blocos e ijexás, ficou restrito ao centro velho, longe dos holofotes e dos turistas. E Recife/Olinda? Também parece haver, finalmente, sucumbido à mercantilização desenfreada e à guerra das fabricantes de cerveja.
Quanto a mim, confesso que, a cada vez que vejo na TV, de relance, uma imagem daquela impressionante multidão se comprimindo pelas ruas de Recife ou de Salvador, acho interessante (por cerca de 30 segundos) até, logo em seguida, pensar: 'que bom que estou aqui e essa gente toda está lá...'
Pra terminar essa reflexão meio sem sentido e sem pé nem cabeça (será o tal do 'espírito momesco'??), destaco uma frase da página de editoriais da Folha de hoje:
“A ‘cultura das celebridades’, essa ficção, colonizou o Carnaval. As escolas de samba passaram a funcionar como agências de ‘rating’ de modelos e aspirantes. Fazem a triagem que alimenta o mercado sexista e vulgar das revistas, novelas e filhos da elite pelo resto do ano”. – Fernando Barros e Silva.