segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

O homem, o mito


No final da década de 50, ele era apenas mais um caipira chegando a Nova York em busca de fama e fortuna; hoje, permanece como um dos maiores e mais influentes artistas de sua geração. E aos 67 anos, continua viajando pelo mundo numa turnê que parece não ter mais fim.

Ao longo dos últimos 47 anos, Bob Dylan demonstrou enorme dificuldade para lidar com as implicações decorrentes do mito que se formou em torno de sua figura. Ele sabe, entretanto, que uma carreira feita de atitudes quase sempre arredias e construída sobre uma discografia com mais de 40 discos (oficiais) que cobrem fases tão diversas quanto polêmicas, apenas poderia contribuir para fazer crescer a aura de mistério e curiosidade que cerca a sua intimidade. Mais de vinte autores já se arriscaram a escrever a história de Robert Allen Zimmerman, mas nenhum deles conseguiu a garantia da absoluta exatidão. E mesmo sua própria autobiografia – cuja primeira parte, ‘Chronicles’, já saiu por aqui -, apesar de traçar um saboroso painel dos primeiros anos de sua vida artística, deixa muitas perguntas sem resposta. Logo que chegou ao mítico Greenwich Village nova-iorquino, além de inventar um sobrenome (que até hoje não se sabe com certeza se foi mesmo inspirado no escritor e poeta Dylan Thomas), Bob construiu uma nova biografia para si próprio. É engraçado... por muito tempo, acreditou-se que ele era realmente um vagabundo estradeiro, descendente dos índios sioux, ao invés de mais um entre muitos meninos aparentemente sem qualquer atributo ou talento especial e principalmente, sem nenhuma perspectiva de vida que fosse além da obscura, tediosa e preconceituosa cidadezinha de Hibbing, no Minnesota. O caudaloso (e excelente) documentário ‘No Direction Home’’, de Martin Scorsese, retrata magistralmente o período-chave dessa incrível transformação do redneck sem graça em popstar mundial.

E pra complicar ainda mais a vida de fãs e jornalistas, Dylan participou de diversas gravações de amigos – e mesmo em alguns de seus próprios discos, tocando piano ou bateria, por exemplo – ‘escondido’ atrás de vários pseudônimos: Elston Gunn, Blind Boy Grunt, Lucky Wilbury, Boo Wilbury, Elmer Johnson, Sergei Petrov, Jack Frost, Jack Fate, Willow Scarlet e Robert Milkwood Thomas são os que hoje se sabe.

No mês que vem, alguns poucos milhares de endinheirados que tiverem entre 400 e 900 reais pra gastar em um único ingresso (os mais ‘baratos’, de 250, já se esgotaram), poderão tentar decifrar mais um pouco do enigma Dylan. Ao mesmo tempo, poderão se divertir tentando reconhecer as músicas que ele cantará. Com a voz cada vez mais fanhosa e uma inquietude cada vez maior em relação a seu próprio repertório, Bob Dylan é capaz de fazer um show inteiro só com músicas conhecidíssimas como ‘Like a Rolling Stone’, ‘Blowin’ in the Wind’ ou ‘Knockin’ on Heaven’s Door’, mas com arranjos e melodias alteradas a ponto de tornar praticamente impossível a sua identificação. E reza a lenda que o cara jamais faz um show igual a outro.

Em sua longa carreira, Bob Dylan gravou alguns discos inspiradíssimos, essenciais. Meus favoritos? ‘The Freeweellin’ Bob Dylan’, ‘Highway 61 Revisited’, ‘Basement Tapes’, ‘Nashville Skyline’, ‘Planet Waves’, ‘Before the Flood’, ‘Blood on the Tracks’, 'Desire', ‘Infidels’. Mas a boa notícia é que, depois de diversos altos e baixos, seu CD mais recente – ‘Modern Times’, que apesar do título, possui inusitado clima retrô que remete a um vaudeville mambembe do faroeste americano – é muito, muito bom. E vejam só: na semana de seu lançamento, em agosto de 2006, ‘Modern Times’ entrou direto no primeiro lugar das paradas dos EUA, fazendo de Bob Dylan, aos então 65 anos, o artista mais velho em toda a história do showbiz americano a alcançar tal feito.

Welcome, Mr. Zimmerman!

15 comentários:

jayme disse...

Mr. Zimmerman é um dos que me fazem pensar o que é que faz o mito em torno de um astro (há muitos astros, mas muito poucos mitos). Por que ele?

GUGA ALAYON disse...

pq não, jaymão?

jayme disse...

Guga, o por que não é a regra, o por que sim é que é um mistério. Por que ele e não o Neil Young (comparando feras)? Sei lá, apenas caraminholando.

Anônimo disse...

Márcio,
eu adoro o Dylan, seja nas canções próprias, acho que esta é própria (e não sei se bem assim, arisco - depois vou olhar no Google)... "Lay, lay, lady stay...", qto a interpretações lindas (canção dele mesmo?, me lembro c/ a Nina simone tb), tais quais: "she takes like a woman,; yes she does and she breaks just like little girl...".
E isso é muito pouco dentro do que tb pouco já ouvi dele.
Viva Dylan!
Bj.

Anônimo disse...

A transição de astro para mito não tem muito lá explicação, além, claro de uma ótima assessoria de imprensa.

GUGA ALAYON disse...

jayme, Neil ex-Young envelheceu.
Dylan ressurge sempre.
Diferença dos astros-fênix mitos e dos astros-ônix idos.
Apenas descaraminholando tb
abração

Neil Son disse...

jayme, guga e peri: sobre essa discussão sobre 'o que faz o mito', acho que o Dylan teve a sorte de atravessar período riquíssimo e fundamental (anos 60 e 70 na veia!), teve a competencia de refletir como pouquissimos, aquela efervescencia em suas letras (de imagens e metaforas muito criativas), soube 'usar' (ainda que muitas vezes involuntariamente) a própria timidez/esquisitice em beneficio de seu proprio marketing, e teve talento musical para promover a quebra de barreiras e o 'crossover' entre o folk, o country, o rock e o pop. acho que por aí dá pra se explicar - e justificar plenamente - a construção do mito, não é mesmo?

Neil Son disse...

sibila: 'lay lady lay' e 'just like a woman' são realmente duas das músicas definitivas do dylan e devem estar, certamente, entre as mais regravadas de seu imenso repertório. mas perdem nesse quesito para 'blowin in the wind' (que deve ser a mais conhecida, mas que está longe de ser a melhor dele) e 'like a rolling stone'.

Neil Son disse...

e... caro guga: discordo veementemente de seu comentário sobre neil young.

Anônimo disse...

Neil
Bela explicação, ele amadureceu na época certa, na ebulição certa.

GUGA ALAYON disse...

caro, owner. Tb discordo.ahahah. Pode tirar o Ido dele e trocar por comedido, por favor. ahahaha
É que prefiro muito mais o BD.
abraço

GUGA ALAYON disse...

caraca, fui mexer com o xará do dono. Apague tudo que vc ouviu pelos olhos. ahaha

jayme disse...

Xi, Guga, é melhor pensar em um longo exílio. Dizem que Neil Son é implacável.

GUGA ALAYON disse...

Jayme, se fosse um Samurai seria o Neil San. Vou é cair fora à francesa...

Neil Son disse...

quinada, guga... amigos amigos, musica à parte.