terça-feira, 12 de agosto de 2008

Djavan: talento e preguiça


Fui ontem ver o show do Djavan no HSBC Brasil (ex-Tom Brasil). A princípio, achei meio estranho: uma única apresentação na cidade, numa segunda-feira, e salvo engano, pessimamamente divulgada. Mas... surpresa: a ampla sala de espetáculos estava completamente lotada! Tal fato serve de mote pra falar da inusitada posição ocupada pelo cantor e compositor alagoano na música brasileira (prometi a mim mesmo jamais escrever novamente o depreciado e surrado termo ‘MPB’). Pouca gente deve se lembrar, mas Djavan despontou como um original sambista, na metade da década de 70, com as excelentes ‘Fato Consumado’ e ‘Flor de Lis’. Representou, sem dúvida, um sopro de novidade: suingue bem próprio, voz marcante, cara de menino. Mas ele já tinha estrada: antes de vir pro Sul Maravilha, em 73, Djavan Caetano Viana era, ao mesmo tempo, meio-de-campo do CSA e líder do grupo de baile LSD (Luz, Som e Dimensão). No Rio, começou gravando músicas de outros artistas para novelas da Globo – na trilha de ‘Gabriela’, cantou Caymmi; e no LP de ‘Fogo sobre Terra’, cantou Toquinho e Vinícius. Além disso, cantava na noite carioca – música brasileira, jazz, soul, o que pintasse. Mas depois do sucesso dos dois sambas citados, tudo mudou. Vieram, em incrível sequência, os LPs ‘Djavan’ (1978), ‘Alumbramento’ (1980) e ‘Seduzir’ (1981), com músicas como ‘Serrado’, ‘Álibi’, ‘Meu Bem Querer’, ‘A Rosa’ (com Chico Buarque), ‘Faltando um Pedaço’ e a própria ‘Seduzir’. O leque musical aumentara significativamente, passando a incluir baião, reggae, samba-canção, baladas, soul, e até um fantástico dueto com G.Gil (‘Humbiumbi / Nvula Leza Kia’) em nagô.

A partir disso, Djavan passou por altos e baixos criativos (mais altos do que baixos, é verdade); em 82, lançou o excelente ‘Luz’, mas caiu em seguida nos fracos ‘Lilás’’, ‘Meu Lado’ e ‘Não é Azul mas é Mar’. Alcançou novamente o sucesso popular com ‘Oceano’, em 1989, mas ficou marcado por muita gente como o ‘rei do virundum’, das letras incompreensíveis e até ridículas. Injustiça, injustiça: Djavan é um grande compositor, melodista de primeira e letrista muitas vezes inspiradíssimo (não se pode acertar sempre...). Não à toa, é um dos compositores brasileiros mais admirados e gravados por feras do jazz internacional. A prova disso está nos pouco comentados, porém superlativos discos que lançou entre 1992 e 98: ‘Coisa de Acender’, ‘Novena’, ‘Malásia’ e ‘Bicho Solto – o XIII’. Essa é, pra mim, a fase áurea do artista. Depois, parece que Djavan, mais uma vez, perdeu o rumo: partiu para a fórmula fácil do show “pra cantar junto”, enfileirando sucessos e engordando a conta bancária com o ultra bem-sucedido ‘Djavan Ao Vivo’. Competente mas muito fácil para um talento como Djavan. Preguiçoso, pode-se dizer. Houve uma certa redenção com disco de 2001, ‘Milagreiro’, mas a coisa ficou grave mesmo foi com o horroroso ‘Na pista, etc.’, um verdadeiro sacrilégio que reúne os sucessos do alagoano em versões ‘pra dançar’... ARGHHH!! O que foi isso, Dija??? Por conta disso, o disco mais recente, ‘Matizes’, de 2007, eu nem cheguei a escutar...

O show que vi ontem é bom, mas ‘bom’ é muito pouco para alguém como Djavan. Sua excelente forma física, aos quase 60 anos (que completa em 27 de janeiro), chega a ser inacreditável, mas a preguiça, a escolha do caminho mais fácil, continua. Em parte porque, há algum tempo, Djavan optou por colocar seus dois filhos na banda que o acompanha. Nada contra filhos, é lógico, mas não dá pra comparar o grupo atual com a espetacular banda Sururu de Capote, que acompanhava o artista em seus bons tempos. O público adora o show atual, é verdade, mas quem viu o banho de som que eram seus shows há cerca de 10 anos, se decepciona. É uma pena.

PS: As sofríveis fotos que ilustram esse post, foram tiradas no celular e são de minha autoria...

23 comentários:

Anônimo disse...

Não vi o show de 2ª feira, mas vou dar minha opinião mesmo assim!
Antes disso, preciso deixar registrado que "Lilás", "Meu lado" e "Não é azul mas é Mar", eu particularmente, acho todos geniais, hehe!
Acho um erro os dois filhos na banda tbm, assim como o show mais fácil, mas pensa bem, o cara tem quase seus 60 anos, já fez história e agora quer dar uma força pros filhos. E sobre a preguiça: um único show, 2ª feira à noite, mal divulgado, o que mais ele deveria fazer além de um show cantado junto, que, com certeza, era o que o público tbm esperava?
(ah, e sobre o filme mulézinha da kate, concordo com o charme do jude law! e tomates pra quem não gosta de uma comédia romântica de vez em quando!!!)
beijos
Luisa

Anônimo disse...

o apelido dele é dija?

Neil Son disse...

luisa: que era o show que o publico esperava, não tenho a menor dúvida. tanto que cito isso no post. mas o dija podia ousar mais - afinal, nessa altura, não deve nada a ninguém e nem precisa provar mais nada. gil e caetano, por ex, sempre trazem alguma ousadia...

Neil Son disse...

um dos apelidos, franka. mas há quem chame o cara de gostoso, tesão, e daí pra baixo...

anna disse...

eu amo o gijavan!!!!!!

meus filhos e 90% dos meus amigos que nnao me escutem.

Neil Son disse...

também gosto demais do dija, anna; exatamente por saber do que ele é capaz, cobro isso dele. e estou disponível pra provar aos seus filhos e aos 90% dos seus amigos, como e porque o cara faz parte da elite musical.

Anônimo disse...

Neil
1. Seu celular é melhor que o meu, fotograficamente falando.
2. Muito difícil um artista manter-se sempre degraus acima na escada artística. Existem os patamares para um descansinho, a passadeira dobrada onde tropeçam, o escorregão na cera quando sem passadeira, e por aí vai.

E grana no bolso sempre convida a uma certa malemolência inzoneira (Gostaria de experimentar essa sensação ).

GUGA ALAYON disse...

Eu gosto. E vc , Jaymão? ahahaha

jayme disse...

Ahahah, Guga, eu acho que o cara tem coisas muito boas, mas tem o lado "virundum" que Meil bem lembra, e uma certa empáfia, difícil de aceitar num cara que ralou tanto.

Neil, antes de tudo, eu não sabia que o cara se chamava Djavan Caetano! Lendo aqui e aprendendo.

Duas colaborações ao excelente texto: o samba "Fato Consumado" foi segundo lugar no festival Abertura da Globo, lá em algum momento longínquo dos anos 70. Foi o primeiro trampolim do Dija, que passou a aparecer nos musicais da emissora, fazendo parte do elenco da Som Livre. Outro fato a destacar é a magistral gravação de "Capim", feita pelo Manhattan Transfer, com participação do próprio Djavan.

Neil Son disse...

jayme: 'capim' é um musica sensacional! e na gravação original, no disco 'luz', o coro feminino (americano) canta quase imperceptivelmente no background: 'djavan... djavan... djavan...'. vc tem razão em relação a uma certa empáfia do cara; por conta disso, sempre tive certeza de que foi ele que deu a idéia da auto-referencia ao coro, hehehe...

Anônimo disse...

Djavan é, no Brasil, meu ídolo musical maior desde minha infância. E agora, lendo seu post, me dei conta que já fazem 8 anos que eu tive a honra de estar em um show dele. Fiquei perto do palco, e até consegui que ele lesse meus lábios qdo eu disse "eu te amo". haha! Surpresa maior foi q ele retribuiu meu carinho jogando um beijo!
Inesquecível!

Neil, tô com a Luisa, pega leve pq ele é bom de qqr jeito, com show para o público cantar junto ou não.
Não sabia desse "Na pista". rs
Leio há alguns meses, sou fã do seu blog.
Abçs
Luciana Leite

liquidificador disse...

Neil, muito legal você fazer esse post. Porque depois que o Djavan passou a fazer umas musiquinhas bem mais ou menos parece que o povo mais "intelectual" se esqueceu de que ele já fez muita coisa boa.
E eu acho que um artista não tem obrigação nenhuma para com esse tal de "público", o cara não tem mais inspiração, ou cansou, ou sei lá, e ainda consegue ganhar um dindim, sorte a dele. Mania que a gente tem de ficar cobrando coisa dos outros, tá louco, como se o cara tivesse a obrigação de ser genial a vida inteira.
Esses seus posts de música são o fino. Adoro.
beijoca

Neil Son disse...

luciana: não sou de jeito nenhum contra 'o show pra cantar junto'. mas quando a coisa fica reduzida a isso e nota-se que os arranjos são óbvios e o artista tá ali só 'cumprindo tabela'... a coisa fica esquisita.

Neil Son disse...

carol: se o artista perdeu a inspiração, o saco ou a vontade de cantaer em púbico, ótimo - é um direito dele - entendo e concordo inteiramente. mas se o cara tá nessa situação e resolve fazer um show, cobrando ingresso (e caro)... aí passa a ser enganação, desonestidade.

GUGA ALAYON disse...

Djavão?
Djafoi.

Marina Morena Costa disse...

Na faculdade, tive aula com um musicólogo que tirava o maior sarro do Djavan. Dizia q ele tinha letras malucas e atirava pra todos os lados, além de explorar demasiadamente o romantismo.
Eu fazia apenas cara feia, por falta de argumentos técnicos e musicais para expressar a minha revolta com o tal crítico de música.
Adorei o post! Me sinto mais informada agora.
Concordo com a Carol, seus posts de música são "o fino".
Grande beijo!

Neil Son disse...

o problema de muitos, marina, é que analisam letras de músicas desassociadas da música em si, da melodia, do ritmo, etc. letra de música não é poesia. às vezes, pode até ter valor como texto isolado, mas não é esse seu objetivo. uma letra de música deve 'caber' na melodia, deve ter ritmo de acordo com a harmonia musical, deve ter sonoridade, conforme a musica pede. assim, é uma tremenda besteira 'analisar' etimológicamente, gramaticamente ou o que seja, uma letra de carlinhos brown, djavan ou luiz melodia, fora do contexto para o qual forma criadas.

Anônimo disse...

ola.Estive no show de segunda sou muito fã do dija mas realmente djavan p dançar é um pouco forçado.
achei o show fraquinho e adoro o cd matizes mas quase n tocou, só foi um remake, tudo repetido, as mais cantadas, achei chato. só que ele no palco por si só vale a pena, maravilhoso cheio de swing, ma ra vi lho so.Esperava um pouco mais.

Neil Son disse...

pois é, anônimo... o dija pode muito mais...

valter ferraz disse...

Neil,
Pode incluir maisd um na tua lista de "baixos": Matizes. Não vale o que custa.
De resto, Djavan tem belas canções e os arranjos muito bem feitos.
Como voce disse, não se pode acertar sempre e nem contentar a todos.
Lá no perplexo, desço a lenha no teu ídolo João Gilberto.
Abraço forte

Neil Son disse...

pois é valter, o dija precisa equilibrar a balança. desse jeito, jájá os baixos superarão os altos...

Anônimo disse...

Pelo amor de Deus!!!!!!
Como você pode não ter ouvido o cd e foi ao show???
Enfim...
Ouça, vale a pena, ainda mais com músicas como Louça fina e Matizes...
Espetacular.

Dá uma passada lah?http://masnaminhaopiniao.blogspot.com/
Abraço!

Neil Son disse...

t� bom aia, prometo ouvir o 'matizes' e comentar algo por aqui. mas ouvir o cd e ir ao show s�o duas coisas totalmente independentes entre si... uma coisa � uma coisa e outra coisa � outra coisa. valeu a visita e o coment�rio!!