segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Mar de Algodão


O amigo Jayme, do blog 'dito assim parece à toa' (linkado aqui ao lado), me pede pra postar alguma coisa sobre Dorival Caymmi. Tarefa difícil, essa... Não sou especialmente conhecedor de sua obra, nunca o vi no palco, não o conheci pessoalmente. Mas certa vez escrevi o texto de contracapa para um disco de Olivia Hime ('Mar de Algodão', somente com músicas do mestre) e logicamente, reconheço sua enorme importância para a música brasileira e a qualidade suprema de haver conseguido algo que deve ser a glória máxima para qualquer compositor: 'instalar' a sua música no inconsciente coletivo de um povo, de uma nação; de tal forma que essa (a música) passa a ser um elemento de identidade, de reconhecimento deste povo, desta nação. Caymmi tinha esse dom.

Em 94 anos de vida, compôs somente 100 músicas. Uma de suas características mais ressaltadas, para o bem e para o mal, era a preguiça - imediatamente relacionada à sua origem baiana, embora tenha vivido a maior parte de sua vida no Rio. Mas em Salvador, há muito tempo circula a piada: "o baiano tem três velocidades - devagar, muito devagar e Caymmi...". Carmen Miranda apresentou Caymmi ao Brasil - e ao m undo; um dos grandes discos de Gal Costa é 'Gal Canta Caymmi'; há anos, Gilberto Gil escreveu uma bela música em homenagem à Caymmi, chamada 'Buda Nagô'; e Tom Jobim, em seu último disco, 'Antonio Brasileiro', além de regravar lindamente o clássico 'Maracangalha', ainda apresenta aquela que deve ter sido uma das últimas composições de Caymmi - uma pequena jóia de nome 'Maricotinha'.

Como destaca Ruy Castro na Folha de hoje, por capricho do destino ou pura fatalidade (não importa), o criador de 'É doce morrer no mar', 'Acalanto', 'João Valentão', 'Sábado em Copacabana', 'Só Louco' e 'Dora', entre tantas outras, e também dos talentosos Dori, Nana e Danilo, morreu tranquilamente em um sábado, em Copacabana. Nada mais simbólico. E justo.

12 comentários:

jayme disse...

Tinha certeza de que vc ia mandar muito bem. Caymmi, que eu saiba, é o primeiro músico popular que tinha domínio e excelência nas quatro principais atribuições de um cancionista: fazia letra, punha melodia, tocava muito bem bem seu violão (remember "Canoeiro") e cantava esplendidamente. Isso nos anos 50. A partir da década seguinte, isso se tornou mais e mais comum. O exemplo acabado é o conterrâneo de Caymmi, Gilberto Gil. Não sabia que ele só tinha 100 canções. Mas que canções!

anna disse...

amo a voz dele.

agora, 94 tá bom de viver nesse planetinha, né?
ainda mais ele, que imagino ter vivdo exatamente do jeito que quis.
pelo menos a maior parte dessa quase século de existência.

Anônimo disse...

Passou, e muito bem, a vida numa rede.
Um exemplo para essa moçada e velharada que se esgoela malhando em academias.

Neil Son disse...

é jayme, esse post, antes de ser uma homenagem ao caymmi, é uma homenagem a você. um pedido seu é uma ordem!!

Neil Son disse...

tem razão, anna. esse viveu mesmo, teve do bom e do melhor... qdo morre um cara desse, que viveu tanto e tão bem, o sentimento é de alegria, a tristeza passa logo.

Neil Son disse...

peri: o velho devia ser daqueles que esperava a maré encher pra resolver entrar no mar...

Anônimo disse...

é doce morrer no mar...
paranga

Patty Diphusa disse...

Hoje uma menina escreveu algo muito significativo no meu blog, Caymmi não é da minha geração, mas foi entrando na minha vida, entrando...e se instalou.
é isso, nem precisou de muito esforço para se instalar, mas é difícil imaginar quem não o teve em sua vida. E em grande estilo.

Salve, grande baiano. E que ocupe todas as redes que achar naquele lugar lá.

bjs

Neil Son disse...

mais doce ainda é VIVER no mar, paranga...

Neil Son disse...

é a tal coisa que coloquei no post, patty: caymmi está no inconsciente coletivo do brasileiro...

GUGA ALAYON disse...

"o mar...quando bate na praia...é bonito;é bonito..."

Neil Son disse...

e vira um mar de algodão, guga...