
O veterano Elton John faz shows em São Paulo, neste final de semana. Exageros visuais (hoje praticamente abandonados) e frescuras
à la Liberace à parte, trata-se de um verdadeiro craque, genuíno expoente da melhor
pop music produzida na explosão do
show business das últimas décadas do século passado.
Os óculos espalhafatosos e as roupas ridículas de Elton já foram pra lata de lixo da história, assim como também o próprio
show business e o mercado de música no formato que o consagrou, mas sucessos como ‘Skyline Pigeon’, ‘Don’t Let the Sun Go down on Me’, ‘Sorry Seems to Be the Hardest Word’ e tantos outros ficarão para sempre. Eles são exemplos bem sucedidos da tal ‘canção pop perfeita’ – algo que muitos buscam e poucos alcançam; ou ao menos, poucos conseguem enfileirar uma sequência de músicas que aliam melodias e letras com capacidade de atingir um grande número de pessoas, sem perder qualidade musical, seja na composição ou na interpretação. Não é fácil: os Beatles e Stevie Wonder conseguiram; Elton John, também.
Reginald Kenneth Dwight nasceu em 25 de março de 1947 em um subúrbio de Londres. A pobreza da família e o cinza do céu e do próprio ambiente ao redor não eram nada animadores para o garoto gordinho, tímido e extremamente míope. Refugiou-se na música, alternando o estudo do piano clássico com o gosto pelos discos de Elvis e de Bill Haley. Com apenas 11 anos, ganhou uma bolsa na Royal Academy of Music; com 15, passou a tocar piano nos finais de semana em pubs de Londres; e aos 17, formou a banda ‘Bluesology’, que começou a acompanhar artistas americanos em turnê pela Inglaterra. Mas não foi fácil... Elton fez teste para ser vocalista do King Crimson e não passou. Virou músico de estúdio em uma época que não havia crédito para os acompanhantes nos discos – é dele, por exemplo, o piano em ‘He ain’t Heavy, He’s my Brother’, delicioso sucesso dos Hollies. Em 1969, conseguiu gravar seu primeiro LP, ‘Empty Sky’ - fracasso quase absoluto.

Mas tudo mudou na década de 70. Seu segundo disco vendeu pouco mais que o anterior, mas já trazia a excelente ‘Your Song’ e serviu para Elton acertar uma mini-turnê pelos EUA; na platéia de seu show em Los Angeles, a presença de gente como Quincy Jones e Bob Dylan atraiu a atenção da imprensa. Em seguida viriam três excelentes LPs, talvez os melhores de toda a carreira de Elton John: “Tumbleweed Connection”, “Madman Across the Water” e “Honky Chateau”, que trouxe o estouro mundial “Rocket Man”. Estava estabelecido o ‘estilo Elton John’: ênfase no piano, bom gosto melódico, voz característica e original. E o nível continuou alto no album seguinte, “Don't Shoot Me I'm Only the Piano Player”, que incluía "Crocodile Rock" e "Daniel".
Consagrado, Elton John começou a viajar na maionese... ‘Goodbye Yellow BrickRoad’, o disco seguinte, foi um retumbante sucesso, mas já fez surgir aquele personagem que deu origem ao chamado
glam rock, um dos ‘movimentos’ mais ridículos e esquecíveis do gênero... O disco trazia, entretanto, uma de suas melhores composições, ‘Bennie and the Jets’, em empolgante gravação ao vivo. Em 74, ficou amigo de John Lennon e gravou excelente versão para ‘Lucy in the Sky with Diamonds’, além de participar do antológico ‘Walls and Bridges’, um dos melhores discos da carreira-solo do ex-beatle. No ano seguinte, mais uma bola dentro, com a participação no filme ‘Tommy’ e o
cover para ‘Pinball Wizard’. Mas o exagero assumiu proporções inimagináveis: no final da década de 70, Elton John fez shows vestido de Estátua da Liberdade (?), de Mozart (??) e até de Pato Donald (??!!). Começava a decadência, temperada a heavy drugs, bebida e bulimia.

Sucessos esporádicos se seguiram, mas o clima era evidentemente sombrio. No final da década de 80, Elton John leiloou todos os seus óculos e roupas na Sotheby’s, com renda revertida para a pesquisa da cura da AIDS, causa que ele abraçou com fervor. Em 91, foi um dos poucos convidados para o funeral de Freddie Mercury. No mesmo ano, um documentário e um CD-duplo (ambos muito bons), comemoraram os 20 anos da parceria de Elton com o letrista Bernie Taupin. Um tanto esquecido, ressurgiu para o mundo em 97, cantando 'Candle in the Wind' no funeral da Princesa Diana. Hoje, Elton John virou ‘artista de Las Vegas’, alternando o palco do Caesar’s Palace daquela inverossímel cidade, com ninguém menos do que Celine Dion (argh!!). Mesmo assim, não vou perder o show dele nesse final de semana; mas verei pela TV...