quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Guitar Heroes (5)


O cara foi tão genial que parece até injusto ‘reduzi-lo’ à condição de grande guitarrista. Afinal, Frank Zappa foi também cineasta, designer, arranjador, produtor, maestro... transitou pelo rock, blues, jazz fusion, música eletrônica, música atonal, música erudita. Além de ter a língua afiadíssima e encarnar como poucos a figura do outsider, do iconoclasta. E foi ainda um verdadeiro entertainer – seus shows, quase sempre, eram uma saudável e hilariante bagunça. Mas vou pela emoção. E foi a emoção contida nos solos sempre brilhantes da guitarra que Zappa me capturou, há muito tempo.

Comecei a prestar mais atenção em Frank Zappa por conta do fanatismo de dois velhos amigos, Navarro e Lugoma, autênticos e insuperáveis zappamaníacos. E olha que não era fácil manter-se atualizado e por dentro de tudo o que o cara fazia: em sua carreira de mais de 30 anos, Frank Zappa lançou nada menos do que 79 álbuns de estúdio (ao menos uma dezena deles, duplos ou triplos), e muitos outros gravados ao vivo - ‘oficiais’ e piratas. Frank Zappa nasceu em 1940 na cidade americana de Maryland. Desde adolescente, misturava o gosto por compositores de vanguarda como Edgard Varèse e Stravinsky com o r&b dos anos 50. Tornou-se músico autodidata e lançou em 1966 o primeiro disco (‘Freak Out!’) à frente de sua banda Mothers of Invention, trazendo uma improvável combinação entre o rock básico dos anos 50 com improvisações enlouquecidas e colagens sonoras. Era o mote: Zappa investiu nesse modelo e foi se tornando musicalmente cada vez mais ousado e mais ferino nas críticas ao show-business, às religiões, à hipocrisia moral norte-americana – foi um saudável ser politicamente incorreto, numa época em que nem se sonhava usar este termo. E à medida que crescia a sofisticada complexidade de sua música, tornavam-se ainda mais demolidoras e engraçadas as suas letras.

Produtivo e prolífico quase até o fim, foi um guitarrista originalíssimo e inovador (um dos primeiros a usar e abusar, com maestria, de recursos como ‘wah-wah’, por ex.) e muitos de seus discos são considerados essenciais na história do rock. Destaco apenas alguns (quase lógico dizer que não conheço todos): “We're Only in It for the Money” – de 1968, com capa genial, satirizando o Sgt.Peppers dos Beatles -, “Hot Rats” (1969), “The Grand Wazzoo” (1972), “Roxy & Elsewhere” e “Apostrophe” (ambos de 1974), “One Size Fits All” (1975), “Sheik Yerbouti” e “Joe’s Garage” (ambos de 79), “Boulez Conducts Zappa: The Perfect Stranger” (1984) e “Jazz from Hell (1986).

Zappa viveu de 1967 até o final com a mulher Gail Sloatman, com quem teve os filhos Moon Unit, Dweezil, Ahmet Emuukha Rodan e Diva Thin Muffin Pigeen. Foi ao lado deles que morreu, em 4 de dezembro de 1994. Dois dias depois, Gail distribuiu uma nota para a imprensa que dizia simplesmente: “Frank Zappa partiu para a sua última turnê, pouco depois das seis da tarde de sábado”.

No raro vídeo abaixo, à frente de uma das melhores formações do Mothers of Invention (com Ruth Underwood na percussão e xilofone, Napoleon Murphy Brock no sax e vocais, Chester Thompson na bateria e George Duke nos teclados, entre outros), Frank Zappa arrasa na sensacional ‘Florentine Pogen’. ENJOY!

17 comentários:

Márcia W. disse...

Neeeil,
Zappa rules, Zappa rocks. And Jazzes too!
Quando vi a foto pensei exatamente na frase que abre o teu post.
Eu tinha subido um video dele sendo entrevistado por umas criaturas sinitras e obtusas. Quem quiser conferir, tá aqui.

anna disse...

e ainda cantava demais, com aquela voz grave dele.
foi cedo não?

Tiago Ferreira da Silva disse...

Dele conheço bem pouco: só tenho o primeiro álbum dele com o 'Mothers of Invention' e o sensacional 'Hot Rats', que mistura um pouco de música celta e tem aquele solo estrondoso de "Willie The Pimp".

Percebe-se o quão insano e único ele é só de escutar esses dois trabalhos.

Também, digo que é uma jornada hercúlea conhecer todos os 79 álbuns do cara.... muita coisa, mas que vale a pena!!!!

abraço!

Anônimo disse...

Esse vale a pena comentar:
Alem de musicalmente genial, suas letras eram totalmente transgressoras, tipo:
"Why does it hurt when I pee?
I got it from the toilet seat
My balls feel like a pair of maracas
Oh God I probably got the
Gon-o-ka-ka-khackus!"
"Sy Borg Gimme dat, gimme dat
Blow job...
Oh no, I don't believe it
You're way more fun than Mary
And cleaner than Lucille"
Um prato cheio para o adolescente de então...
Abraço,
Parangolé

Neil Son disse...

muito legal, marcia! thanks for sharing!

Neil Son disse...

voz cavernosa, anna. procura no youtube pelo zappa na música 'stinkfoot', toda cantada por ele. sensacional! e ele morreu aos 53 anos. cedo mesmo.

Neil Son disse...

tiago: vai atrás dos discos 'One Size Fits All' - que tem um solo de guitarra espetacular na faixa 'Pojama People' -, 'Apostrophe', 'Roxy & Elsewhere' (ao vivo) e 'Waka/Jawaka' (qdo JeanLucPonty era o violinista do Mothers).

Neil Son disse...

hahaha paranga, e só mesmo o zappa pra fazer um blues como 'stinkfoot'. uma letra sobre chulé, hilariante...

gugala disse...

ZAPPA É SÃO PAULINO!!!!

gugala disse...

http://www.youtube.com/watch?v=WOeOlcR_CgE
*
*
ouçam, vejam e digam se não é uma das melhores bandas e música que já existiram:
The Illinois Enema Bandit!!!!

libf disse...

O que aconteceu com o comentário que eu tinha postado aqui? :-(

Zabarov disse...

Matou a pau, mano!
Pelo menos uma vez por mês tem ZappaSession aqui em casa. Todos os álbuns citados estão disponíveis em vinil, o sagrado vinil, pros participantes.
Na próxima te chamo, ok?

Neil Son disse...

'illinois enema bandit' está na galeria dos clássicos zappianos, guga. sem nehuma dúvida!

Neil Son disse...

ué libf... tb não sei...posta de novo!

Neil Son disse...

opa zabarov! tô dentro!!

Simão Salomão disse...

Neil, my friend,

Mandou bem. Vale ressaltar que estes dois caras aí, Lu Gomes e Navarro, ex-quadrilha da fumaça, começaram a colocar o nome do Zappa nas publicações de anos atrás, como Som3, Bizz, essas coisas de museu.
Também deve ser de conhecimento público que nossa amiga Susy Creamcheese, a Gail Zappa, estranhamente se tornou uma pessoa indiferente ao publico de Mr. Z, e, por exemplo, ela está proibindo a banda The Central Scrutinizer Band, de gravar e lançar material de seus shows com nada mais, nada menos que Ike Willis, o próprio, que tocou com Mr. Z no incrível Joe's Garage and others.
Logo mais posto umas fotinhas do último show deles por aqui em Sampa.
Abração, nos vemos nas sessions que fazemos com o Zabarov e demais Zappamaniacs from nowhere...

Neil Son disse...

grande comentário, simão! e onde andam navarro e lugoma? do primeiro, sei que foi pro japão, há muito tempo. e só. quanto à ms.zappa, me parece mais um exemplo de 'ex' que absurdou com a morte do maridão, o apego à obra do cara e à possibilidade do dinheiro 'fácil'. os casos são muitos: yoko, rita marley...