Quase pouco de quase tudo é assim: um pouco mais do que pouco, sobre um pouco menos do que tudo. Sem compromisso nenhum, principalmente comigo mesmo.O que der na veneta e pronto.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Fonte da (e para a) juventude
Disco novo de Caetano na praça: ‘Zii e Zie’. Titulo estranho para mais um lançamento estranho dessa estranha fase do amado&odiado compositor. Ele parece viver um período meio indefinido e esquizofrênico. Por um lado, é muito bom que seja assim: afinal, é reconfortante ver alguém chegar aos 66 anos ainda com a chama da inquietude, da experimentação, com o gosto pela novidade. Mas esse é o mesmo cara que, muito recentemente, esbanjou caretice e conservadorismo naquela série de shows/cd/dvd ao lado do Roberto Carlos. Desde o disco ‘Cê’ – que acho que muito pouca gente, além de mim, gostou -, Caetano parece buscar alguma espécie de elixir da juventude: aliou-se aos amigos de seu filho Moreno - os ‘meninos’ Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado - e vem gravando desde então acompanhado por esse ‘power trio’ roqueiro (baixo-guitarra-bateria). ‘Cê’ trazia uma estética crua, urgente, nervos expostos. Com letras desbocadas e às vezes deslocadas. A fórmula se repete em ‘Zii e Zie’ - por cima das guitarras (mais uma vez) sujas e quase sempre estridentes, as letras falam de bundas, de lula, de guantanamo, de osama bin laden, de condoleeza, de tesão, da lapa carioca, de drogas, ‘de um tudo’.
No decorrer do ano passado, Caetano ‘testou’ praticamente todas as músicas que aparecem agora no novo disco, durante a temporada de shows ‘Obra em Progresso’, no Rio. Ao mesmo tempo, manteve – e ainda mantém - um blog de mesmo nome, onde exercitou sua conhecida verborragia mas, acima disso, desenvolveu inesperado e frutífero diálogo com seu público. Inclusive o arranjo escolhido para uma das faixas do novo CD – “Incompatibilidade de Gênios”, de João Bosco e Aldir Blanc, em belíssima regravação – foi decidido por meio de votação dos visitantes do blog. É sem dúvida muito interessante essa disponibilidade, por parte de um consagrado e histórico artista, para compartilhar com o público uma ‘obra em progresso’ e ir inclusive adaptando essa obra a partir da resposta desse público.
E apesar disso tudo, nos últimos tempos, Caetano tem andado meio sumido da mídia (principalmente, da mídia paulistana). Não mais: a partir dessa semana, praticamente todos os veículos da ‘grande imprensa’ trouxeram, estão trazendo ou trarão, entrevistas com Caetano e resenhas do disco por uma multidão de (pseudo) críticos. Está aberta, mais uma vez, a temporada de caça – e também de babação – ao compositor baiano. Da minha parte, como já abandonei há tempos a função de crítico musical ligado à urgência dos veículos diários, posso me dar ao luxo de dizer que, depois de ouvir “Ziie Zie” apenas duas vezes, ainda não cheguei a uma conclusão segura: a negativa seria de que é uma continuação pouco inspirada do anterior; a positiva, de que é um aprofundamento, um aprimoramento inspirado do ‘Cê’.
De qualquer forma, taí de novo o Caetano. E é muito bom saber que a gente ainda pode contar com um artista como esse: genial, polemista, irritante, egocêntrico, melodista inspiradíssimo, inovador, cagador de regras, dono de ‘várias verdades’, camaleônico, ultrapassado e à frente de seu tempo. Ou não.
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13 comentários:
affe...
Neilum elemento importante da tua "resenha" foi dizer que ouviu apenas 2 vezes o disco. Tem crítico profissa que ouve meia vez e já sai arrotando tratados estéticos para demolir ou endeusar um artista. Fiquei com isso na cabeça pq ontem um crítico de cinema do Guardian confessa que mudou totalmente de opinião ao rever um certo filme e conclama os leitores a fazer seus depoimentos nessa linha. Bem legal. (e o meu comentário já tá virando um tratado e só li o post uma vez...)
só isso, anna?
esse é o ponto, marcia! sei que muitas vezes, o coitado é obrigado a produzir uma 'crítica' a toque de caixa, pela urgencia do jornalismo diário ou pela concorrencia selvagem. eu mesmo já me vi nessa situação diversas vezes mas, qdo isso acontecia, sempre tive a honestidade de deixar isso claro para o leitor, de alguma forma. mas há aqueles que realmente já descartam ou esculhambam uma obra, por pura preguiça ou preconceito.
Neil
Ótimo texto.
Adorei a abordagem sobre a " esquizofrenia" artística, ah, ah.
Uma coisa que sempre admirei nele, foi a inquietude.
Mas é difícil ser artista, nós desejamos sempre trabalhos inovadores, mas o artista tem o direito de ratear de vez em quando e talvez se acomodar. quando ele aparecer com RC, desligar a TV ou o rádio e vamos cuidar de outra coisa.
ai meus sais...
Gênio total para mim. Parece que o blog obra em progresso terminou. Deve começar um ZiiZie agora.
Sua 'critizenha' ficou sensacional , aliás!
abç
peri: o problema da união dele com o RC foi que ele entrou na do 'rei' e não o contrário, em momento nenhum. ou seja: caetano cantou acompanhado por aquela orquestra rastaquera e emoldurado por aqueles arranjos cafonas- açucarados. já imaginou como teria sido divertido ver o RC cantando com power trio roqueiro do caetano?
valeu, guga! e olha: o 'obra em progresso' tá com a morte anunciada, mas ainda tá no ar e o caetano continua postando 'desbragadamente', hehe...
Neil
Ou que fosse meio-a-meio.Gostaria de ver RC dando uma desbundada.
céus...
o RC dando uma desbundada seria bom mesmo, peri. mesmo porque, despernada ele já deu faz tempo hehe...
... e infernos, anna. tudo na voz caetânica.
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