quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Crime!

Estou abismado com a maneira pela qual a ‘grande mídia’ vem tratando a questão da 'epidemia' de febre amarela. É um absurdo, é terrorismo puro, é mais uma tentativa CRIMINOSA de abalar o governo federal. No domingo, o ministro da saúde disse em rede nacional que não existe epidemia e que, ao contrário, os casos da doença vêm caindo ano após ano. Mas a mídia não quer nem saber; vem instaurando um clima de pânico que leva milhares de pessoas a se vacinarem sem a mínima necessidade. São manchetes e mais manchetes sobre ‘casos suspeitos’ e mortes confirmadas – embora estas estejam dentro da média estatística dos últimos anos. E os jornais também ‘se esquecem’ de dizer que a doença detectada é do tipo ‘silvestre’, o que significa que a mídia NÃO PODE alertar a população dos centros urbanos a se vacinar – a não ser que tenham viagem marcada para as áreas consideradas de risco.
É uma irresponsabilidade total: por conta desse alarmismo, muita gente está gastando horas e horas em filas pelo país inteiro e pior, correndo riscos, já que a vacina é desaconselhável para um grande número de pessoas. O infectologista Celso Granato, chefe do laboratório de virologia da Unifesp, disse que o risco de uma pessoa ser contaminada em áreas urbanas 'é zero', e que "Indivíduos com problemas de alergia à vacina, mulheres grávidas ou quem tenha algum grau de imunodeficiência não devem tomar a vacina. Não é uma vacina para ser tomada à toa". Declarações semelhantes foram dadas também pelo dr. Drauzio Varela – que é adorado pela mídia, mas que nesse caso, não conseguiu o mínimo destaque. Curioso, não?

No sábado, vejam só, a coluna de Eliane Cantanhêde no UOL dizia o seguinte: "Vacine-se contra a febre amarela! Não deixe para amanhã, depois, semana que vem (...) Vacine-se logo! Senão, Lula, o aedes aegypti, vem, pica e mata sabe-se lá quantos neste ano --e nos seguintes."

E para a minha surpresa, a Folha de terça-feira publicou um editorial, ‘Não-epidemia’, que dizia: “...Há uma boa dose de exagero na 'epidemia' de febre amarela. O número de casos confirmados nos últimos dias, que é de apenas três, está rigorosamente dentro da normalidade para um país que tem mais de dois terços de seu território como área endêmica. Em termos históricos, pode-se até falar numa tendência de recuo. Até 2003, os casos anuais de FA silvestre se contavam às dezenas -com pico de 85 em 2000. Desde 2004, entretanto, o total de ocorrências não ultrapassa a marca de uma dezena. O que tem ocorrido, isto sim, é um aumento nas notificações de casos suspeitos, que, de domingo para cá, saltaram de 15 para 26. (...) Esse, contudo, é provavelmente um fenômeno mais ligado à inquietude que tomou conta da população ao longo das últimas semanas do que a uma eventual irrupção de novos focos da moléstia. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, cumpre o seu papel ao convocar cadeia nacional de rádio e TV para tentar frear a corrida aos postos de vacinação. (...) Assim, não parece exagero qualificar a atual 'epidemia' como uma manifestação de temor coletivo magnificada pela mídia (...)"

Como é que é?? A Folha não faz parte da tal mídia? Não é ela um dos veículos que traz, há pelo menos 10 dias, manchetes e matérias alarmistas sobre o tema?

A verdade é que causa nojo constatar que a mídia parece ficar exultante com um suposto aumento do número de casos de febre amarela no país.

Isso é CRIME.

CRIME por incitar uma multidão de gente, nas grandes cidades, a correr para se vacinar, sem saber dos riscos e das restrições a essa vacinação, CRIME por disseminar pânico infundado, e CRIME por faltar com a verdade – isso, sem contar que tal ação causa prejuízos ao Ministério da Saúde, pelo possível esgotamento do estoque de vacinas. E quem realmente precisa se vacinar – nas áreas de risco ou porque vai viajar – tem grande possibilidade de ficar sem a vacina.

E se querem responsabilizar o governo pelo suposto aumento de casos de febre amarela, também se darão mal: existe a informação de que esse governo vacinou 60 milhões de pessoas contra a febre amarela no ano passado, o que é um recorde absoluto. Mas algum jornal deu destaque a essa informação ou aos números de casos detectados ou de mortes decorrentes da doença nos últimos anos? Evidentemente, não.

16 comentários:

jayme disse...

Marcio, não acredito em ação coordenada ou conspiratória da mídia para desestabilizar o sistema de vacinação, o país ou o governo Lula. O que houve foi mais um daqueles boatos que se espalham e mais um par de falhas dos frangotes que hoje ocupam as redações. O editorial da Folha acho que demonstra isso. Eliane Cantanhêde faz uma óbvia alegoria, não incita ninguém a postos de vacinação (sem embargo do mau gosto da alegoria). O que ocorre aí é mais um daqueles famosos boatos brasileiros, frutos do boca-a-boca. Acho que as TVs Globo, Record e SBT, isso sim, deveriam ser instadas a ceder mais espaço para esclarecer a população.

Anônimo disse...

a acão só não é 'coordenada', meu caro jayme, porque esses caras - marinho, seu silvio, edirmacedo, frias etc - se odeiam e não conseguem se sentar à mesma mesa. por isso, desde há muito tempo, tentam desestabilizar lula e o governo e só se dão mal. essa é mais uma tentativa tosca e que seria risível, caso não prejudicasse tanta gente.

jayme disse...

Não me parece haver um projeto anti-Lula, aliás, não me parece mais haver projeto político nessa mídia, desde os tempos do "doutor Roberto". Os filhos são hoje beneficiados pelo governo, bem como o bispo. Por isso, estão sempre dando uma no cravo e outra na ferradura (lembra da cobertura ridiculamente ufanista da história do biocombustível?). Só não falo da *eja, por que não a leio. Ali sim há gente com esse ranço lacerdista, disposto a atuar conspiratoriamente contra um governo que contrarie (ou não apóie) seus interesses. Mas sem conexão com as "co-irmãs". E mais: esse sensacionalismo não tem o PT e o Lula como destinatários exclusivos. O Serra, quando ministro da saúde, foi 3 vezes à TV fazer exatamente o que o Temporão fez, esclarecer a população sobre a febre amarela. Não é conspiração, é só o Brasil de sempre.

Anônimo disse...

Marcio e Jayme
pelo menos nota-se alguma evolução no discurso governamental, para a tal epidemia ou na verdade, um pequeno recrudescimento natural e cíclico na quantidade de casos, não foi aventada a culpa do governo FHC.

( seria hilário, num ato falho, ser considerada a melhor epidemia dos últimos 500 anos , ah, ah, ah )

( e eu, devo me vacinar ? moro encostadinho a uma área silvestre, cheia de macacos, o Horto Florestal. e se algum mosquito veio das áreas endêmicas dentro de um avião ? )

GUGA ALAYON disse...

Peri, tome uma vodca em jejum toda manhã durante 10 dias que espanta qq coisa. De amarela, só as bilirrubinas e no máximo o figo.
Marcio e Jayme, realmente essa boataria é ridícula.
abraços a todos, que não estiveram em áreas de risco.
ahaha

Anônimo disse...

jayme: "Não me parece haver um projeto anti-Lula", vc diz e tem razão: afinal, nesse pais as oligarquias dominantes não têm e nem nunca tiveram projeto nenhum, a não ser se perpetuar. sempre foi assim no brasil - os 'nossos' donos de capital estão entre os mais toscos e mais cruéis do mundo. e me desculpe, mas a comparação com o serra ministro é´completamente descabida. o serra foi levado nos braços da mídia (e dessas mesmas elites) à candidatura a presidencia.

Anônimo disse...

peri: a gente vai dar um jeito de por a culpa no FHC, hehehe... (tô só brincando, jayme!)

Patty Diphusa disse...

Bom, Neil, essa não foi a primeira nem será a última, não? E essa frase é horrível, sei, porque mostra que vamos nos acostumando às campanhas que se mostram depois sem fundamento mas ninguém admite isso. Só falta dizer, ai, essa nossa mídia é assim mesmo, deixa. Mas o que não dá é para completar, "mas é limpinha".

liquidificador disse...

não sei se a mídia faz ou não a tal campanha anti-lula mas, com certeza, há a campanha pró-lucro. Epidemia vende que é uma beleza.

Crime, sim, uma ameaça à segurança pública; que bom que tocou nesse assunto.

Anônimo disse...

pois é, patty... eu, formado em jornalismo - e como jornalista que já fui -, me envergonho da classe. sinceramente.

Anônimo disse...

carol: há a campanha pró-lucro, há acampanha anti-lula, e há a campanha pelo jornalismo escroto, destitúído de qualquer caráter.

Patty Diphusa disse...

Jornalista que foi? Jornalista que é, né. Eu tbem me envergonho não como jornalista apenas, mas como cidadã. Mas houve todo o esforço para fazer diferente lá dentro e olha no que deu. Uma debandada que hoje nos mostra um monte de gente preparada fora das redações e deslunbrados despreparados no comando. Sopa no mel para os donos de jornais, os gdes responsáveis por isso. Com algumas honrosas exceções, claro. E por isso aparecem revistas alternativas de qualidade prontas para o debate. Dos jornais, cansei. Bjs

Anônimo disse...

exceções realmente existem, patty, mas é só pra confirmar a regra. e é triste ver alguns bons e experientes jornalistas, muitas vezes sem nem perceber, 'fazendo o jogo' dos patrões...

Anônimo disse...

Discurso veemente e completamente lúcido. Bom ter pessoas que expressam bem o que achamos.
Beijo.

Só leio Eliane catanhêde e outros do mesmo time ou naipe para, sabendo que pensam mto diferente de mim, ver se há algo, no que escrevem, que faça sentido.
Bom tb pra denunciar as tramas de determinada mídia dominante no Brasil.
Inté.

jayme disse...

Neil, não falo do que mídia disse do Serra, falo de boatos: bajulado ou não, teve de ir 3 vezes à TV negar a febre-amarela, divulgada pela RBB -- Rede Brasileira de Boatos.

Patty Diphusa disse...

Deslumbrados, credo. Sei o certo, tá.