Quase pouco de quase tudo é assim: um pouco mais do que pouco, sobre um pouco menos do que tudo. Sem compromisso nenhum, principalmente comigo mesmo.O que der na veneta e pronto.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Cabelo, cabeleira...
Desde a posse do Obama que eu queria abordar esse assunto. Me incomoda o fato da mulher do primeiro presidente negro dos EUA - e principalmente, suas filhas - alisarem o cabelo.
Antes de mais nada, pra deixar bem claro: não se trata, aqui, de um 'preconceito às avessas', do tipo: "Negro deve sempre manter os cabelos naturais, estilo black power, trançado ou em dreads". Não é isso, de jeito nenhum: afinal, se os brancos podem pintar o cabelo de azul, vermelho, loiro, fazer chapinha, ou qualquer outra coisa, por que os negros não poderiam? Cada um que faça o que quiser com seu cabelo, oras. Mas acontece que a chance da Michelle Obama demonstrar a beleza da negritude no posto que hoje ocupa, é inédita e espetacular. Um cabelo afro na primeira dama dos EUA seria, acredito, uma importante tomada de posição perante o mundo e, principalmente, teria um efeito 'turbo' para a auto-estima de milhões de meninas negras achincalhadas por seu 'cabelo ruim', e que sofrem diariamente (na maioria das vezes, forçadas pelas próprias mães) com chapinhas, ferros-quentes e sei lá quais outros instrumentos de tortura.
Mas o meu problema principal não é com a Michelle; embora eu não goste, ela tem todo o direito de ter o 'capacete Condoleeza Rice' que quiser. É adulta, dona de seu nariz. Mas não me conformo com as meninas Sasha e Malia, tão bonitinhas antes do 'Inauguration Day', com seus cabelinhos trançados e encaracolados, e agora, condenadas à chapinha? No no no Ms. Obama, that is cruel!
Conversei com a Leila, do blog Stuck in Sac (linkado aí ao lado) sobre isso, e ela me mandou um artigo escrito por Erin Aubry Kaplan, negra, editorialista do Los Angeles Times, e publicado no site Salon.com. O link pra quem quiser ler a íntegra do artigo é http://www.salon.com/mwt/feature/2009/02/03/michelle_hair/, mas aí vai um trecho, em tradução livre:
"... o cabelo de Michelle representa as mais altas aspirações e também as limitações de um certo estilo black. Está sempre imaculadamente penteado, reto e brilhante. No Inauguration Day, o cabelo de Michelle se movimentava graciosamente no vento gelado. Não há nada de errado nisso. E esse é, potencialmente, o problema: nada está errado; o cabelo é perfeito. É a aparência de Michelle, desde que a conhecemos. E já começa a parecer que ela é refém daquele cabelo, é uma armadura que ela carrega. É claro que as 'primeiras-damas' têm seus estilos próprios -- o penteado de Nancy Reagan, por exemplo, não mudou nem um centímetro em oito anos, com vento ou sem. Mas eu imagino como seria ver, mesmo que ocasionalmente, uma mulher negra, jovem e bonita, com os cabelos naturais, crespos e soltos. Em outras palavras, um estilo que destacasse a sua origem étnica, ao invés de 'ameniza-la'.
... sei como são complexas essas opções de estilo e de identidade: sou uma mulher negra com cabelo crespo, mas não crespo o suficiente para ser considerado 'pixaim' e tipicamente negro. Mesmo assim, minha negritude inspira percepções e expectativas sobre o meu cabelo; as pessoas brancas acham que aliso o cabelo e se mostram sempre curiosas sobre 'o que eu fiz' com ele. Na minha vida, usei muito pouco em termos de químicos e ferros para alisar o cabelo, mas ainda assim não escapei dos rituais capilares dos negros: quando criança e adolescente, não me era permitido deixar o cabelo 'natural' ou 'solto', simplesmente porque era algo muito 'étnico'. Até hoje, ainda sinto aquela ansiedade infantil sobre como vou usar o meu cabelo em ocasiões especiais. Enrolo? Aliso? Prendo? Deixo como está e como é? Desconfio que Michelle Obama se faz as mesmas perguntas.
Nesses tempos de suposta 'liberalidade racial', como lidaríamos com uma Michele de cabelo crespo ou com dreads, se ela se parecesse mais com a negra que ela é? Aplaudimos a família que hoje ocupa a Casa Branca; mas esperamos que os Obamas definam uma nova era para os negros, ou que que eles personifiquem um modelo idealizado, criado pelos brancos e internalizado pelos negros desde há muito tempo? Acho que até um penteado black 'comportado', estilo Oprah Winfrey, deixaria as pessoas nervosas..."
Bem, e pra encerrar o post que se iniciou com a bela cabeleira de Beyoncé, vamos de Gal Costa - que estabeleceu no final dos anos 60, um novo parâmetro de cabelo no Brasil - cantando... "Cabelo". O clip é tosco, baseado na horrorosa estética anos 80, mas a música (de Jorge Benjor) e a letra (de Arnaldo Antunes) são ótimas.
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32 comentários:
Neil,
concordei e o post me fez lembrar do
"Respeitem meus cabelos, brancos",
principalmente quando ele (Chico César) fala: cabelo vem da África, junto com meus santos.
Já o clip é, como se dizia então, qualquer nota...
que liguem as "antenas cósmicas" por lá!
Lourochapa já basta o Mickey Rouco aí de baixo...
Cabelo de mulher e' um assunto muito complexo. : ) Mas eu ainda nao me sinto competente para opinar sobre esse tema, porque nao tenho a experiencia de viver com cabelo crespo, ou na cultura negra americana, que tem uma estetica bem particular, incluindo cabeleireiros especializados. Eu nao sei se da' mais trabalho a chapinha ou a trancinha, ou deixar o cabelo em afro...
Muito, muito bons, tanto o post quanto o texto da Salon. Mas confesso que, dos artigos da Ms. Kaplan, gostei mais ainda deste aqui http://www.salon.com/mwt/feature/2008/11/18/michelles_booty/index.html, que fala de outra característica afro da 1a dama, que no Brasil não assusta ninguém (muito pelo contrário) mas lá parece ser assunto complicadíssimo : a bunda.
;o)
gosto de cabelos naturais.
assim como o meu ruivo de nascença.
só sei de uma coisa: cabelo de preto dá um trabalho do cão, hehe! acho que é por isso que a primeira dama deixa os dela assim, pq cada vez que vc acorda com os cabelos naturalmente crespos, eles estão naturalmente do tamanho do mundo, eu que o diga! por isso acho que, às vezes, é mais uma questão de aparecer sempre "bem aprumada" e ter menos trabalho. mas é claro que gostaria de vê-la com o cabelo afro, afinal de contas, deve ter um monte de gente pra dar um tapa no visual!
beijos, Luisa
marcia: esse título de disco do chico cesar é mesmo um achado.
'antenas cósmicas' é como os rastas chamam seus dreadlocks, não é isso, guga?
mas leila, você não acha que a michelle obama tem quase que a obrigação de aproveitar pra ao menos escancarar esse tema pra discussão geral?
grande dica, cynthia! vou ler o 'texto da bunda' e conforme for, trago a bunda aqui pro blog. ops, quer dizer, no sentido figurado, né?
anna, por falar nisso, ia incluir nesse post uma referência ao ótimo artigo do marcelo coelho na folha de ontem, que fala sobre os cabelos pintados dos 'nossos' políticos. mas era muita coisa prum post só. mas fica dado o toque, pelo menos.
luisa: no artigo original da americana citada aí no post, é dito que o cabelereiro da michelle obama já ganhou um talkshow na TV americana. eita paisinho aquele...
É muita carga para um caminhãozinho só. Os Obamas pegaram um rabo de foguete bem quente e ácido num país racista até o osso... será que eles estão com cabeça para pensar na estética mundial? Concordo Neil, que seria muito melhor se a Michelle trocasse a chapeta pelo natural ou dreadlocks abrindo assim o debate. Seria ótimo. Mas, penso que desta forma, o racismo em cima deles aumentaria brutalmente e a missão a cumprir seria muito mais difícil ou impossível. Fora isso, com a vaidade feminina eu nem me atrevo, existem fatores que para nós homens é irrelevante, e que para elas é absoltamente fundamental. Sei lá, aqui da tribo sem conhecimento profundo sobre a realidade gringa, acho a familia estéticamente belíssima com ou sem chapeta, com bundão ou não. São lindos!
oops! ...existem fatores que para nós homens são irrelevantes e que para elas são absolutamente fundamentais...
Neil:
Fui consultar Mitiko(cabeleireira),ela me perguntou se era um blog de muiézinha.He,he,he...
Ela me disse que o lugar em que a mulher tem o cabelo mais crespo ´e na Africa.
Hair(Herr)
Günther.
É Beleza Pura, clássica do Caetano, que dura, cura e faz outras milongas mais...
"Beleza Pura
Não me amarra dinheiro não
Mas formosura
Dinheiro não
A pele escura
Dinheiro não
A carne dura
Dinheiro não
Moça preta do Curuzu
Beleza pura!
Federação
Beleza pura!
Boca do rio
Beleza pura!
Dinheiro não!
Quando essa preta
Começa a tratar do cabelo
É de se olhar
Toda trama da trança
Transa do cabelo
Conchas do mar
Ela manda buscar
Pra botar no cabelo
Toda minúcia
Toda malícia
Não me amarra dinheiro não
Mas elegância
Dinheiro não
Mas a cultura
Dinheiro não
A pele escura
Dinheiro não
A carne dura
Dinheiro não
Moço lindo do badauê
Beleza pura!
Do ilê-aiê
Beleza pura!
Dinheiro hié!
Beleza pura
Dinheiro não!
Dentro daquele turbante
Do filho de gandhi
É o que há
Tudo é chique demais
Tudo é muito elegante
Manda botar!
Fina palha da costa
E que tudo se trance
Todos os búzios...
Todos os ócios...
Não me amarra dinheiro não
Mas os mistérios..."
Beijos!
(Também adoro Cabelo)
é hélio, talvez você tenha razão... mas a minha esperança é que, com o passar do tempo e desse frenesi inicial, michelle e filhas tenham mais tranquilidade e 'clima' para ir botando as asinhas (negras) de fora.
hehe, gunther, mitiko sabe das coisas...
sibila, gosto também de uma das antigas da timbalada: 'lá vem o mulatão do bundê/todo mundo qué vê/todo mundo qué vê' - obraprima da concisão, hehe...
Concordo que a Michele, se prefere assim,ainda vai.Mas as meninas, tendo de fazer escova naqueles cabelos, coitadas. Mas, quem sabe, conversando com a Benedita, elas repensem..rs
Agora, cabelo é mesmo estranho. Ainda no governo americano,acho aquele cabelo da Hillary forçado demais, parece nylon...De vez em qdo brilha, mas apaga boa parte do tempo.
Eu já nem sei o que fazer com o meu, naturalmente rebelde, o que dirá palpitar nos outros...
bjs
sara cura
dessa doença de branco
de querer cabelo liso
já tendo cabelo louro
cabelo duro é preciso
que é para ser você, crioulo
paranga
aforismo jurídico:
o que abunda não prejudica.
E se as meninas preferirem assim? Será que terão que ouvir o discurso politicamente correto sobre a importância que tem obedecer ao padrão étnico adequado? Haja saco... Hoje tem criança até com cabelo verde, por que as coitadinhas, só porque o pai é presidente, não podem optar? Elas sabem falar, devem ter o gosto pessoal lá delas. Já estão grandinhas.
Grande abraço
Neil, eu acho que a Michelle Obama tem outras prioridades, veja no que ela vai trabalhar como Primeira Dama, inicialmente:
"Her agenda includes healthy eating and assisting military families, as well as pushing work-family balance, national service, women’s concerns and opening up the White House to the community."
patty: é mais facil palpitar no dos outros do que chegar a uma conclusão sobre nosso próprio cabelo, hehe...
haha, é isso aí paranga!!
o que abunda não prejudica, marcia. e o que prejudica, abunda...
lord: se aquilo for o gosto delas, é um gosto incutido por outros e pela sociedade como um todo, dominada sabemos por quem...
leila: me preocupa o que quer dizer exatamente esse 'assisting military families...'
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